Recent Posts

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009


Foi em 13 de Outubro de 83. Eram suas bodas de rubi. A Terra girava certa como sempre e ironicamente era Primavera quando vi Vovó mudar. Ela secou num piscar de olhos, como planta que a gente deixa de regar só porque se esqueceu de onde diabos deixou o regador e suas folhas vão secando pouco a pouco, do verde para o amarelo, até caírem duras, secas, mortas.
Folha a folha até restarem-se apenas os galhos, nus e magros. E com a Vovó foi bem assim, como se um dia eu fosse dormir com ela rechonchudamente alegre e brilhante, e no outro acordasse com ela apagada, oca.
Eu tinha lá pelos meus nove anos, com meu vestido azul rodado e os cabelos amarrados, quando atendi ao pedido de mamãe e fui chamar a Vó Nena para partir o bolo e tirar mais um bocado de fotos. Corri pelo corredor repleto de fotografias dela com o Vô Velho, com a fome me apressando e fui logo enfiando a cara pela porta entreaberta.
Vó Nena estava sentada na cama, parada com a cara congelada de dor. Em seu colo estava uma pequena caixa de sapatos entupida de papéis e outras coisas.
Ela segurava forte o que parecia ser uma carta, suas unhas bem polidas quase rasgando o papel. Parei na porta por um tempo, quase como se também estivesse congelada de dor, se é que eu sabia o que isso significava naquela época. Entrei e sentei-me ao seu lado, puxando a caixa para mim. Vovó segurou meu pulso, me fazendo parar no meio do caminho. Seus olhos brilhavam com lágrimas, fixos no armário com a porta aberta.
“Eu estava procurando os brincos que seu avô me deu em nosso primeiro aniversário de casamento. Eu não me lembrava bem onde eles estavam, mas sabia que havia os guardado até hoje, por aqui, em alguma caixa. Não sei por que, mas senti que talvez devesse procurar na parte dele do armário... estúpida idéia, não é mesmo, meu docinho?” Ela se virou para mim e eu apenas confirmei com a cabeça, fazendo minhas tranças balançarem, acompanhando a primeira lágrima gorda que rolava por seu rosto. “Todos esses anos e eu nunca toquei em nada dele, respeitei seu espaço, honrei com minha parte do trato. E hoje, logo hoje, meu maldito destino me prega esta peça... o destino é algo muito azedo, sabia, querida? É, é azedo sim, não há desculpas. Se não lhe azeda na entrada, com certeza o fará na saída.”
Olhei para a caixa e vi a foto do Vô Velho ainda moço, com uma mulher ao seu lado. Bonita, ela parecia ter vindo ‘dum’ daqueles filmes ou da televisão, tão diferente da Vó... ela não tinha jeito de vó, não tinha jeito de mãe e eu nunca tinha visto uma mulher assim, ao menos não tão de “perto”. Hoje eu sei que ela tinha jeito de mulher, de mulher que a gente não encontra dentro de casa. Pensei que talvez ela fosse uma tia minha ou coisa que o valha, mas vovó não me deixou perguntar, apenas me abraçou forte, com seus cabelos loiros e bem penteados se esfregando em meu rosto, com seu cheiro de massa de bolo. Até hoje, nessa fatídica tarde de Agosto, me lembro da vovó quando alguém assa um bolo. Cheiro de casa.
De qualquer forma, vovó apenas me abraçou e me prometeu que um dia, quando eu estivesse mais velha e não fosse mais menina, mas sim uma mulher feita, um dia eu entenderia. Mas que agora era hora de guardar a caixinha especial e esquecer a idéia imbecil dos brincos, pois estava na hora de partir o bolo e comemorar o casamento deles. Ela resmungou mais algumas outras coisas sobre casamento, confiança e traição, mas só o que ficou gravado na minha cabeça oca de criança, foi que mulher que era mulher, cheirava a desejo, não a massa de bolo, pois só assim, sendo verdadeiramente mulher, que se é amada.
Não dei muita bola a nada que ela tinha dito, nem mesmo isso, porque toda essa história de amor e mulher e traição não significavam nada para mim quando comparados à Emília ou o Balão Mágico. Então eu só sorri e disse a ela que estava tudo bem chorar, por que eu sabia que era choro de felicidade e que quando é assim, de felicidade, faz bem chorar, por que só lembra a gente do quanto somos felizes. Ela então sorriu para mim, secou as lágrimas com seu lenço e levantou para se ajeitar em frente ao espelho. Dei uma última espiada na caixa em cima da cama e estendi minha mão a ela, e assim passei de volta pelo corredor recheado de memórias em quadros.

Vovó entrou na sala e encarou Vô Velho por um bom tempo, os quatro olhos fixos uns nos outros, como arma mirando num alvo, gelados e pontiagudos. Vovô baixou a cabeça, suspirando enquanto ela dançava pela sala entre os convidados com a mesma desenvoltura de sempre. Finalmente fomos até a mesa no quintal, onde estavam o bolo e todas as outras coisas que não podíamos comer antes do “Parabéns” porque era coisa feia e falta de educação... ou consideração, que seja. Fiquei bem ao lado deles, ansiosa por aquele brigadeiro, tentando tirar uma lasquinha com o dedo ou coisa que o valha. Vi vovó encostar a boca pintada de vermelho na orelha de seu marido e sussurrar “Eu sei de tudo.”. Ele apenas engoliu forte a saliva, fazendo seu pomo de Adão se mexer e assim a festa continuar, sem mais interrupções. Ou talvez eu que simplesmente não tenha notado mais nada depois que caí de cara no brigadeiro que só ela sabia fazer.
E foi a partir dali, assim, que vi Vó Nena secar, pouco a pouco, se esvaziar feito bexiga de festa sem ninguém nunca entender o porquê. Mas os anos se passaram e como já era de se esperar, os dois já se foram e eu cresci sem muito revisitar o quê havia acontecido naquela tarde. Sem muito pensar naquilo até hoje.
E então chegou 16 de Agosto de 2002. Um dia comum, uma tarde qualquer, típica de Rio de Janeiro. Saí cedo do trabalho devido ao enjôo infeliz que não arredava o pé de mim. Era pouco depois da hora do almoço quando passei a chave pela porta, largando minhas coisas pela mesa e seguindo para o quarto. Na pequena mesinha ao lado da cama, achei o celular do meu marido. Diogo era uma verdadeira cabeça de vento que sempre se esquecia de tudo, mas nunca de carregar o celular consigo como se sua vida dependesse de tal coisa. Meu estômago dançou dentro da minha barriga, piorando a náusea que vinha azedando meu dia desde manhã. Estiquei-me até o celular e peguei-o com ligações perdidas e mensagens recebidas. Abri o flip, sentando em nossa cama de casal impecavelmente arrumada. Várias das ligações, todas as mensagens eram de uma Simone. Elas vomitavam paixões e apelidos carinhosos e clichês, com um fogo que nunca havíamos sentido. Pois não, eu não, mulher com o mínimo de respeito não iria me rebaixar a tal nível de abrir meu corpo para tais fantasias, ao menos não em voz alta. Mulher que é mulher de verdade, mulher que se preze, se respeita, não é mesmo?
Que seja! Nada disso fazia diferença agora que meu coração gelou, comigo sentada na cama com a cara congelada de dor. Do nada, não sei por que, lembrei daquela tarde de Outubro na casa da Vovó. Agora eu já não era mais menina, era mulher feita, construída o suficiente para aguentar a chuva de concreto que caía lentamente, mensagem a mensagem, sobre minhas estruturas. Agora eu era grande o bastante para entender. Maldita tarde de calor, maldito forno chamado Rio de Janeiro. Maldita gravidez com todas as suas complicações e enjôos e frescuras. Tudo por que o destino é assim, azedo, e já não era hora de ele vir dar seu toque de limão em minha vida. Naquela tarde típica de Agosto, eu sequei. Engoli forte minha saliva, tentando umedecer as idéias, apertando o maldito aparelho, tentando voltar no tempo e o lembrar de levar o celular, o lembrar de não perder meu regador, de não errar, de não me deixar secar. Mas não, agora era hora de guardar aquela caixinha especial e deixar o destino azedar de vez a minha saída, solar meu bolo.
Mas antes eu deixei ali, na prova do crime, como nota de rodapé na notícia - “eu sei de tudo.” E então nossa porta bateu...

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

dance me to the end of love

De todas as minhas resoluções de segunda-feira, a única que quero realizar é me abrir... mas apenas o suficiente para deixá-lo tentar entrar. 


Não tem jeito, para baixar minha guarda, só na base da porrada.

the couch


Percorri o mesmo corredor de semanas atrás. O ar condicionado congelando minha pele deixada à mostra, chamando minha atenção para os pêlos arrepiados nos meus braços daquelas cicatrizes em linha. Percorri o mesmo caminho de semanas atrás. Os mesmos rostos tristes do elevador, o mesmo silêncio cortante das portas trancadas. Pacientes pacientemente tornando-se meros números nos prontuários; doenças e tragédias e ferimentos auto-infligidos, escondidos sob a pele corada da vida carioca.
Percorri os mesmos sentimentos de semanas atrás. O medo despertando o quê quer que existisse dentro da minha barriga. O excesso de comida, a falta de controle, o excesso de nojo, a falta de amor próprio. Só estou tentando ser a melhor garota que posso.
Porque é quando achamos que tudo melhorou, que somos tomados por surpresa. É quando comemoramos aliviados e relaxamos que a corda aperta e perdemos o ar.
As mesmas paredes geladas da cama que não é sua, dessa vida que não é nossa. A mesma vista pra favela, onde você só assiste inquieto, sentado no seu novo trono de dor, um animal por um, subindo e descendo o morro da vida... vivendo enquanto você continua preso nesse matadouro cinco estrelas.
Percorri as mesmas certezas de semanas atrás. O sorriso novo em folha, os olhos inchados escondidos pela maquiagem, os quilos ganhos. O excesso de talento para a falta de palco. Só estou tentando ser a melhor filha que posso.
Porque é quando tenho certeza que ganhei, que explodem o pódio. É quando aprendo a chutar, que engolem o alvo. É quando eu acho que você melhorou, que você me machuca.
As mesmas facadas que eu tinha aprendido a esquecer, a mesma dor para prender o choro que eu já nem conhecia mais. As mesmas lágrimas que afogam o sorriso que tão recentemente aprendi a imitar das revistas que você colecionava para mim ou das novelas que nunca consegui assistir.
Percorri as mesmas dúvidas de anos atrás. Quando a única certeza que não podia derrubar era de nunca ser boa o bastante. O excesso de gordura, a escassez de beleza, a falta de jeito pra viver, a tendência a querer sofrer... a bipolaridade que herdei de você.
Percorri as mesmas alegrias de anos atrás. Quando abrir caminho para aquilo que posso controlar é trancar o quê você enfia em mim. Quando eu achava ser dona de mim, dona da minha dor, dona de todo o espetáculo.
E você não consegue mais sorrir.
Ela continua a cansar-se, duvido que ela sequer consiga mentir agora.
Ninguém mais consegue te divertir.
E eu continuo a cansar-me, duvido que eu sequer consiga burlar a fome agora.
Então eu como. Repouso os olhos na comida para não ter que pousá-los em você.
Tento trocar os cigarros pelas calorias, para engordar e tentar alegrar você.
Abro mão de perder mais uns quilos para ganhar algum sorriso seu.
Tento trocar o controle por mais umas mordidas para tentar confortar você.
Para engordar e tentar esconder.
Que de tudo, o que menos posso aguentar, é me ver pesar.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

without words

de tanto querer, aprendi a não sentir
mas pior que sofrer, é apenas existir
de tanto pedir, aprendi a só esquecer
e pior que lembrar é não querer viver


sem palavra alguma, como um bolo na garganta
aprendi a engolir, aprendi a crescer, mentir
sem dar nenhum passo, feito um diabo, santa
firo o que protegia, feito mae, feito cria


e foi de tanto precisar que aprendi a cortar
cortar o cordão umbilical, aprendi a perdoar
como qualquer santo de pau oco saberia de cor
é melhor quebrar a imagem a moer um animal só


sem palavra alguma, tal qual um câncer, sujo
aprendi a andar sem ti, sem rédeas, no imundo
sem dar nenhum passo, feito bandido perdoado
começo por mim, sem ti, sem medo, consertado.

domingo, 15 de novembro de 2009

"A amizade é semelhante a um bom café; uma vez frio, não se aquece sem perder bastante do primeiro sabor."


- Imannuel Kant

domingo, 1 de novembro de 2009

le donne hanno perduto la guerra

Não escrevo há muito tempo. Já não marco mais outros encontros furtivos, na calada da noite, com o papel e a caneta para mais uma sessão coruja de terapia de choque. Apenas os deveres matinais, onde nem mais reconheço minha cursiva, registrando velozmente o quê deveria calcar minha base forte o suficiente para me transformar em uma boa profissional um dia
Mas não, há uma multidão por aqui. Há muito gente querendo sair, implorando para sair e eles precisam de ar, é preciso abrir algum caminho. Mas não, apenas bloqueio com meus canhões e uns poucos pobres soldados, coitados. Meu cotidiano maquinal tanto fez que alcançou seus objetivos – já não mais sinto, apenas máquina sou.

E dessa multidão amorfa, essa massa de indigentes, sempre me visita Carolina. Ela coça, arranha, cutuca, rasga minhas paredes até que eu abra alguma brecha. Abro caminho para minha bala hipodérmica predileta.
De todos eles, só a Carolina eu não consigo abafar. Logo ela?, eles diriam; pois logo ela.

Carolina passou a madrugada fazendo origami, sentada ao meu lado. Não conversávamos; de descartável já nos bastava a vida. Palavras não são tais como papéis; palavras não são recicláveis. Uma vez postas fora, não há jeito; nada lhes muda a forma, permanecem pontiagudas até o fim.
Então permanecemos caladas. Ela com os olhos nos papéis e eu sem os meus.
Sentada no chão com as pernas abertas, sua coluna está mais arqueada que o normal. A menina, coitada, carrega meu fardo. É o preço de se ter uma voz num quarto tão silencioso.
Mas Carolina não se acanha. E dentre tulipas e baleias, constrói-me uma casa. E a pinta. E me entrega. Uma casa onde ficar, sem precisa se alimentar. Uma casa assim, estreita, pequena, onde uma pessoa assim tão grossa e repugnante como eu não entraria...
E Carolina não come, apenas sorri. Alcança o copo d’água e se alimenta de minhas fábulas. Carolina é minha ídola.
E as horas passam e seu corpo dói, mas ela não pára para pensar; ela não abre a boca. Respira fundo e vai, forte. Minha heroína.

Mas então chega a hora de pôr o lixo fora, e as palavras de alguém alcançam o quarto. E são pontiagudas, gordurosas, com cheiro de salgadinho. E as horas passam, cadê a força? Carolina tropeça nas palavras e corre para a cozinha, seguindo o mapa antigo para o tesouro valioso. E cai. De novo.
E eu permaneço aqui, sem olhos. Não seguirei Carolina, não, não dá. Ainda preciso entrar na casa.

sábado, 10 de outubro de 2009

i've bled and i bleed to please you...


E eles iriam se encontrar ocasionalmente pelas ruas de Botafogo, fingindo sorrisos, distribuindo afagos, compartilhando cigarros; e eles iriam tentar conversar, tentar doar uns minutos de seu dia para quem costumava lhe significar a vida.
Mas então as gargantas secariam, as palavras sumiriam; os motivos se desfariam no ar frio e parado daquele lugar supostamente tropical.
E mais dias se passariam; mais a distância aumentaria, os cheiros se apagariam, as memórias se esvaziariam e a vida seguiria.
Novos amigos viriam, amores inéditos estreariam nas novas noites de sextas e o gosto da pipoca não lhe pareceria mais tão insosso; é a vida.
Um comeria desesperadamente, o outro aprenderia a passar fome. Um estragaria seus pulmões, o outro aprenderia a beber sem procurar um motivo pra sorrir; é essa a vida?
E eles iriam trocar mensagens, desejos de boa sorte, notificações de saudade. E eles iriam tentar, tentar pelos velhos tempos; tentar porque é o que se resta a fazer quando não se quer ficar.
Mas então tudo seria em vão, quando aceitar e aprender a nadar na nova maré é tão mais difícil que cravar as unhas na areia movediça de outrem.
E mais noites nasceriam; menos a tristeza apareceria e o álcool diluiria tudo que fosse sólido demais para ficar.
Novos sonhos seriam sonhados, os antigos desperdiçados. Um pronto para ser preenchido enquanto o outro cai esgotado.

E então eles se encontrariam, nus e secos pelas ruas hoje tão molhadas de Botafogo, nem tentariam fingir sorrisos. Se abraçariam sem vontade, se tocariam sem afeto; é sempre assim que se acabam as parcerias? Combinariam sessões de filmes inteligentes, sair para beber, qualquer coisa que evitasse o diálogo, o confronto. E combinariam, e cobrariam, e combinariam novamente, sem nunca sair, até um deles desistir, e o outro acolher o melhor que estava por vir.
E antes da estação mudar, o abraço quente diário se transformou em letras na tela do seu computador; a dor abriu espaço para o esquecimento, logo você, com essa sua mente tão cheia de nada, a oficina perfeita pro diabo, logo você... me entende?



E antes que eu pudesse evitar, você já tinha ido. Antes mesmo de eu notar, disso eu já havia esquecido. Antes que eu pudesse me importar, já havíamos crescido; o outono chegou e eu até sei para onde você tem ido... apenas não quero te seguir pra lá.
E assim mais de nossos dias se passariam e na próxima tarde cinzenta em que virasse uma daquelas de nossas esquinas, eu te encontraria mas não pararia. Engolimos pólos opostos, ou iguais, não sei, nunca entendi de Física, mas sei que hoje o que você tem repele o que é meu e não adianta tentar, nada mais disso é seu.



E antes que eu pudesse me envergonhar disso, minha boca assume. Como um orgão que é mutilado e se regenera, com o tempo o espaço que era teu fora preenchido. E o que veio, foi. O que foi, em breve vai ser esquecido, pode sorrir, não está entre meus planos viver a te perseguir.
E seu cheiro está na fumaça de cada cigarro, seus passos soam pelo quarto, sua risada atrapalha cada momento de silêncio, mas... você, você não; você? Nunca. Você? Já passou. A você? Só resta o adeus.



Boa sorte, sentirei saudades...

sábado, 3 de outubro de 2009


E eu tenho esse problema, que eu venho comentando sobre desde o começo dessa semana, comentando com as pessoas com quem eu estudo, é; enfim, eu tenho essa mania, que é bem mais um problema, de acabar imitando aquilo que eu estou lendo quando escrevo. E quando penso também. 
Meu Deus, acaba virando um emaranhado de períodos que não acaba mais, e tudo com as vírgulas mal colocadas, as metáforas se misturando com as símiles e tudo ficando bem pobre e de um extremo mau gosto no final das contas. Mas é que eu não consigo florear, enxugar, fazer ficar legível, bonito, melhorar o que penso; não consigo. Acho que tem algum defeito no canal de comunicação entre o quê penso e falo com o quê vai parar no papel (ou na tela do computador, de qualquer forma). Acho até que vou acabar dividindo isso em diferentes posts (já que hoje em dia dividir em capítulos seria tão útil quanto ilustrar um livro em braile, se é que você me entende) e trocar a ordem, postar primeiro o final para por último colocar o começo e assim a primeira parte ficar em cima, como as coisas devem ser. 
É que nem depoimento de Orkut; odeio quem manda aqueles depoimentos gigantescos divididos em vários pequenos textos de 1200 (ou seriam 1400?) caracteres cada um, sempre o número necessário de depoimentos pra encher a sua página. Aliás, será que eu posso escrever sobre Orkut? Por essas e por outras que eu não tenho futuro nenhum nisso, mas, vem cá, se a Brooke Sheilds ou seja lá como se escreve o sobrenome dessa criatura da Lagoa Azul, enfim, se a guria pode tirar foto nua (e toda cheia de óleo e ‘danadeza’, valha-me) aos dez anos de idade e tal ir para numa exposição extremamente pornográfica e não ser considerada pornografia infantil, deixe-me escrever o quanto de diabo eu quiser sobre Orkut e Twitter e tudo isso que hoje eu não vivo sem. É arte, minha gente, é arte. Cada um vende o que tem.
Mas de qualquer forma, como eu bem ia dizendo, eu tenho esse problema de acabar imitando quem eu estou lendo. Mas nem me importo, é bom que pelo menos alguma coisa eu estou escrevendo. Sinto que desde que resolvi pôr meu cérebro para funcionar de sete à hora-que-ainda-me-aguento-de-pé todo o resto de originalidade, ou até mesmo de criatividade, de que eu possa um dia ter usufruído foi por ralo abaixo, feito cabelo que cai durante o banho. Se bem que cabelo cai às pampas e nem por isso a gente fica careca, mas é. Pelo menos eu estou escrevendo.
E comecei isso aqui, que eu nem sei o quê é, meio assim que pra não esquecer, no que era para ser meu trabalho de sociologia, mas veja só – Weber é um pé no teu saco. Ou na minha vulva e nos teus colhões, como você bem o queira. É um cara prolixo, desses que sabem encher linguiça como ninguém, que te consome sessenta páginas do teu dia com algo que no final do capítulo você descobre que é mentira, ou pior – que não importa. A importância disso na minha formação eu não encontrei idem, mas vai saber. Sou só mais uma aluna de dezoito anos que nada sabe de coisa alguma. Pra alguma merda isso deve vir a me servir um dia; o livro como um porta copo pra minha vodka, vai saber.
Mas de qualquer forma, só comecei aqui pra não esquecer. Bem o quê, eu não sei, mas se deixasse ficar passeando pela minha cabeça, não ia ter carneiro que ia aguentar pular tanta cerca. Eu sempre penso nas horas erradas e sempre depois das dez. Agora já são quase duas da matina, dessas bem frias que deixam teu Rio com cara de paulista, e eu aqui com o rabo sentado na frente desse computador Lentium 200 rodando na base da manivela, escrevendo sabe-se Deus sobre o quê, quando eu bem poderia estar examinando o espírito do capitalismo. 
Mas resumidamente...
De coração? Cheguei nem ao perispírito daquilo.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

amores breves de metrô


I decided today to change my ways
Instead of a bus I got in a subway
Morning's over I'd soon sink into bed
That was all 'till something cracked inside my head


When I got to my station
Elis was our soundtrack
Such a sweet interruption
The sounds of your steps


I swear I already know your smell
It's like we were related
I mean well, look at our feet man
They're even coordinated


(...)


Well, yeah I can't dance with those two left feet
But I can see us moving correctly to the beat
There's no way out now, we're connected
No one ever had it, I swear, I stole their romantic crap


'Cause I can see us marrying, yeah
And having red head wise kids
Laughing at people's idiocy
'Cause we're better than 'em, I mean, we're you and me


(...)


I'd even let you mess my comics,
touch my stuff, as long as you kept me company.
If you only said hello.


Jéssica Happatsch


terça-feira, 8 de setembro de 2009

like spinning plates


you set your saturdays on fire
your mondays and sundays too
you breathe in such a great life
while everyone breathes back to you


i stand a little tower of pisa
glued to bed from nine to five
i relive those same old lies
just so i keep my groove fine


but we used to be so alike, partners in crime
it's such a shame you had to go, i played my part
where've you been my friend while it all fell apart
it's such a shame you had to live, don't leave don't...


you used to cry every rehearsal
over your older sister's hard ways
i would hold you till you choke
then we'd laugh it all away


but now i stand still on the bed
every day like the same old wreckage
i'm packed to be shipped next morning
my guns're heading to your home


cause we used to be so alike, partners in crime
it's such a shame you had to go, i'll be alright
where've you been my friend while i fell apart
it's such a shame you'd have to go, now close your eyes


cause when you think you've had enough
brothers turn into enemies as the war begins
when you think you'll be strong enough
there'll be no road back to your old beliefs
they've gone away, you're free to breathe 


well we used to be so alike, partners in crime
it's such a relieve you had to live, now goodbye
where've you been my friend while i remained fine
it's such a shame i couldn't leave before the fire started

sábado, 18 de julho de 2009


Algumas pessoas têm reclamado do tamanho da minha fonte mas é que, veja só, minha caligrafia também é assim toda pequena, meio apertadinha, então eu queria algo que assemelhasse-se à ela, entendes? :)
E veja só, poderia ser bem pior.

xx

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Alguém precisa me convencer
pois já está na hora de ver
quem eu realmente sou
e quem se esconde por trás desse ser.
Alguém poderia me oferecer
um pouco de pó no lugar desse arroz
E poemas escritos com lápis de olho
Em celebração à chegada dos dezoito.
Alguém poderia simplesmente vir
E ficar ao invés de sumir
Fincar algumas raízes na terra
Que admiro por trás dessa tela.
Pois entre fios e ligações
Há algum organismo que vive
Entre quedas e conexões
Há alguma doença que sobrevive
Como as feridas que eu pinto
Nesse escorpião maldito
Enquanto esfrego o benefício
Na cara de um velho amigo.
Alguém poderia lhe avisar
Do que restou do que ficou pra trás
Cobertas por seus novos artifícios
As lembranças de um perigo antigo
Que já perdeu forças e reações
Com as idas e vindas do indivíduo
Montando a sequência de suas razões
Na tentativa de um novo início.
Alguém precisa me acordar
Pois já está na hora de dormir
E tudo o quê fiz foi fingir
Saber calar o meu viver.

terça-feira, 7 de julho de 2009


Percorre os dedos pelas memórias
Calos se roçam contra as ondulações
Maciez e quentura ilusórias

Onde alimentas o poder da enganação

Socorre o ódio das mágoas

E afoga o amor no passado
Aquece o esquecimento

Prepara a estrutura e o cal

Transita entre as densas águas

Feito doce derretido, melado

Prepara com força o cimento

Aquece as lembranças e o caos

Coça, roça, espreme a virilha
Toma o curso num estalo

Foge, se esconde da vigília

De quem vive e sente como estátua

Então se levanta e começa a rodar

Cai e aprende a andar
É gente grande, outrem amante

Aprendeu a odiar

Então se rasga e aprende a dançar

Os versos queimados de outrem A
prendeu a perdoar

A mesma pele lisa e macia

O mesmo jogar de bacia

O mesmo fluído pulsa quente nas entranhas

Agora não mais vazias

quinta-feira, 2 de julho de 2009


Há pouco arrumei este jardim
Terra fofa, negra e quente
Recheada de sorrisos e piadas
Cravando tuas raízes em mim
Abrindo o caminho para os crentes
Desobstruindo o inviável.
Há pouco cultivei estas flores
Na terra quente, fofa e negra
Coloridas, frutos de tuas dores
Quando hoje a raiz se desintegra.
Não há espaço para o perdão
Onde cresce tanto orgulho.
Onde descansam os gritos abafados
De um desespero quase nulo
Que rasga o peito do ignorante
Lá no alto, quase inalcançável
Implorando por um pouquinho de atenção
Um carinho pra este ser tão abalado.
Há pouco fugi deste campo
Que cresceu feroz e veloz
Engoli tuas ervas daninhas
Fechei os olhos e segui andando
Carregada por este orgulho atroz.
Então, como quem não quer nada,
Como quem vem só por vir,
Volte e não diga uma palavra
Volte e me faça sorrir.
Por que meu orgulho me desconcerta
E a dor da solidão me desintegra
Mas não posso abrir mão
Do que com tanta força construí.
Essa proteção feroz em ação
Meu inabalável muro de Berlim.

Apenas volte, amigo, volte para mim.

Pois você me conhece tão bem,
Lê-me como ninguém.
E de cor, eu sei, você sabe
Não sou apenas paisagem.
Eu sou a mais alta das ilhas.
A mais dura das ilhas.
Incalcançável.

quarta-feira, 1 de julho de 2009


Aperto o copo contra o peito
A personificação do receio
Solitário velejo neste mar de gente
De alegrias, alergias, mutantes genes
Com o corpo truncado, trancado
Danço David Bowie de 9 às 6
Brindo Joy Division com todos vocês
Meus melhores amigos tão desconhecidos
Na orla brilhante de Ipanema
Esconderijo meu, teu e das baratas
Onde todos se defloram sem pena
Só porque a verdade é mais barata
E a salvação, inexata.
Aperto o copo contra o peito
Nesse círculo sem recheio
Pouco a pouco vou ficando azedo
Talvez seja hora de voltar
Talvez seja a hora de amar
Mas quem volta, sempre vai
E a frieza do amor sempre arde
Nas feridas do passado revisitado
Que o doutor não pôde costurar
Onde as memórias são digitais
E os amores passados, deletados
Mas ainda hei de amar
Nem que seja meu próprio capataz.
E então sorrio por Ipanema
Não é hora de olhar pra trás
Berro Janis Joplin com minhas pequenas
Por que é recebendo que se dá
O quê antes ficava trancado,
enterrado no peito apertado
pelo copo recheado de receio
onde este naufrago se perdeu
do quê antes era verdadeiro.

domingo, 28 de junho de 2009

fragmentos

E logo de cara via-se o aviso:
"Se encontrar minhas portas, quebre-as por favor."

terça-feira, 9 de junho de 2009

catch the wheel that breaks the butterfly

O lugar era frio, sempre; não importa se o relógio-termômetro marcava dezessete ou trinta e cinco graus, era sempre frio. Aquele frio mais gelado, do tipo que atravessa sua pele até alcançar o que ela esconde, macia e carinhosa, protetora. E hoje fazia frio, a pele gelava e ressecava como a árvore da idade ou coisa que o valha. A idade pesava, as idéias esvaiam-se e tudo caía naquilo que se era conhecido. Talvez fosse o cheiro do fumo com melado comprado em vão, guardado na mesinha de cabeceiras, que conferia ao quadrado de concreto um certo ar de plantação de maçãs, um pouquinho do campo na cidade nesse verão inventado.
O lugar era frio, vazio; branco. Quase que um caixão de três por seis. O cheiro era doce, era mesmo, quase como o freezer da sorveteria da Nossa Senhora. O quarto cheirava a morangos e champagne e cigarros de creme e pecados e maçãs importadas direto do Iraque em forma de fumo e sexo e vergonhas... E nada era dito, mesmo com o tanto que era pensado. Nada era vivido, sempre seguindo o que fora ensaiado por nossos pais há anos atrás. Mas o que é meu, é seu, menos a cruz que cada um carrega, meu irmão. Menos os erros que cometemos ou os pecados que temos que pagar. Mas o morango do meu champagne, isso você bebe. Mas a lepra da minha carne você não degusta não. E assim seguimos, entrando e saindo, daquele lugar vazio cheirando a menininhas recém-chegadas à maioridade.
O lugar era frio, vazio, branco e cheirava à lembranças escondidas num caixão de três por seis. A dor era tanta que se podia até abraçá-la, tentando aquietar a criança faminta de todos nós. Era a transição, a primeira menstruação, a primeira dor, o rompimento, a vergonha e o arrependimento. Era o quarto de amadurecimento, o destino final à matéria passada da validade. Mas a esperança era tanta que só se podia fugir, fugir dela, de você, de mim, até a criança faminta rugir de novo e voltarmos à tudo que era conhecido.
E não se tinha mais certeza, as dúvidas estavam fora de circulação e o que era verde virou azul, o que era vivo virou azul, o que era meu se perdeu e o que era seu se juntou aos nós, desatando cada entranha.
E a virgem cheirava à sexo; a intocada, manchada pela sujeira de mãos desconhecidas e desesperadas. Como um mapa marcando a rota até o lugar onde a razão descansa em paz e desinibida, é fácil. Seguir os pontilhados e chegar ao tesouro, trazer pra conta bancária e gastar com as meninas da esquina, é fácil. Suspirar com o Sol pesando em A mais B, também é. É como fugir, é instintivo. Assim como se perder na conversa. Já não sei mais por onde comecei ou aonde quero chegar. É só a mesma urgência de sempre de pôr tudo pra fora, de produzir algo que me traga o mínimo de orgulho próprio, de auto-estima. Mas de estimar eu entendo, ah entendo sim. Sempre o número arredondado, a informação mais próxima; nada nunca é certo, nada confirmado, nada é fincado nesse solo de concreto da terra das maçãs. Só o cheiro no vazio da falta daquilo que eu nunca tive. Só o quarto frio, vazio e branco.
Só eu.
Fria, vazia, apagada.
Só eu.
Cheirando à lembranças daquilo que inventei. Inebriada pelos morangos, pelo champagne, pelo cigarro de creme, pelos meus pecados, meus erros, meus antepassados, pelo sexo, pela dor, pela vergonha, pelas dúvidas... por viver.
Só eu.
Na terra das maçãs.

sábado, 23 de maio de 2009

"Tenho tentado aprender a ser humilde. A engolir os nãos que a vida me enfia pela goela a baixo. A lamber o chão dos palácios. A me sentir desprezado-como-um-cão, e tudo bem, acordar, escovar os dentes, tomar um café e continuar."

- Caio Fernando Abreu

terça-feira, 19 de maio de 2009


- "Hoje eu vi uma batida de carro. Foi bonita. Ninguém morreu."
Pausa para tragar.
- "Aconteceu na minha esquina, assim, bem debaixo da minha janela. Ninguém parou pra ver, só eu e ela. Estávamos com sono e tentávamos conversar sobre algo que fizesse sentido ou que tivesse algum conteúdo, em vão. Pois realmente estávamos com um puta sono, você me entende?"
Silêncio.
- "Mas aí então... ouvimos o barulho. Eu não liguei mas ela foi logo correndo pra janela, de curiosa que é. Falou que "Olha, nossa! Uma batida! Vem aqui ver!" e eu tava querendo era fumar, você me entende? Então eu pensei que ia mesmo era levantar e quebrar mais outra regra da minha mãe e fumar aqui no quarto mesmo. Mas aí eu logo desisti porque já, já a velha ia aparecer me dando bronca e eu não ia saber mais o que fazer pra poder fugir e... mas aí então eu vi a batida. Era bonita assim, tinha mulher no meio, ? Mas ninguém morreu. O cara, assim, era um táxi, sabes? Desses amarelos tipo crente que somos Big Apple mas aí tá, era um táxi e o carro de uma outra mulher, que parecia ser bonita, e nesse táxi tinha um passageiro de mochila, que também parecia ser bonito e tudo o mais, e ele saiu mancando, mas mancando sem motivo, você me entende? Por que a batida nem foi tão forte assim! Foi bonita pra cacete e tudo o mais porque foi bem aqui na esquina da Princesa Isabel, cara! Bem ali naquela parte que tem aqueles troços de concreto que mais parecem bancos, bem debaixo do relógio que olha só que coincidência, velho! No relógio mostra o horário, óbvio, e a temperatura. Umas três horas, por aí, não passava disso. E nem tava muito quente não. Mas o quê eu realmente queria te falar sobre esse relógio aí é que nele tem sempre uma propaganda de alguma coisa, sabes? E a propaganda da vez era desse novo filme do Tom Hanks, é. Mais um daquela saga do cara que eu esqueci o nome, até porque os livros dele são uma puta merda, mas enfim, o nome era Anjos e Demônios e aí eu pensei "Nossa, dá um troço legal pra escrever sobre!". 'Tá, mentira. Pensei porra nenhuma. Só lembrei agora que tava te contando isso que tinha essa propaganda desse filme aí no relógio."
Pausa para respirar fundo e tragar novamente.
- "Mas aí acabamos vendo o cara lá mancando e tentando atravessar a rua e ela disse que se fosse ela, o cara de mochila bonito e tudo o mais, ela não pagaria porra de corrida nenhuma e eu só concordei com a cabeça meio assim como quem não se importa o suficiente com a conversa pra abrir a boca mas também se importa o bastante pra não deixar nenhum silêncio tomar o lugar. Aí ela me deu um soquinho no braço e, 'tá, essa parte eu não me lembro muito bem se é verdade não mas deve ter sido bem assim mesmo, sobre o soquinho e tudo o mais, porque ela sempre faz isso! Mas aí então suspiramos e voltamos pros nossos lugares de antes, eu no computador, como sempre, e ela na cama, como sempre, com aquela cara de sono. E aí voltamos a tentar encontrar algum assunto que fizesse sentido o suficiente para nos despertar daquela marola louca de sono e o caralho, mas cara, quando você mais quer fazer sentido é quando você menos consegue, você me entende?"
Silêncio.
Traga novamente.
- "Aí ficamos naquela coisa assim, aqueles assuntos sem sentido, aquelas frases soltas, um gemido aqui, uma reclamação ali e então ficamos lá, meio que paradas no tempo. É nessas horas que eu percebo o quanto ela significa pra mim. Porque sabe, não é com qualquer um que eu consigo ficar assim nessa conversa sem eira nem beira, principalmente quando eu ' morrendo de sono e numa puta duma fissura pra fumar. Mas aí eu poderia passar a tarde toda daquele jeito olhando pro teto e a ouvindo reclamar. Mas aí resolvemos passar na minha tia porque ela pode sempre nos tirar do tédio e, caso estivesse assim toda sonolenta também, ela sempre estará fumando unzinho, você me entende? Aí ela fala assim, com aquele jeitinho de quem não sabe nada de porra nenhuma, exatamente o quê a gente precisava escutar. Desde qualquer besteira sobre a posição da Lua no nosso signo ou essas coisas de mantras tipo muxi-muxi ou o que o pó faz com a gente ou o quê ela fazia aos treze anos. E é bem numa dessas baboseiras que ela solta a pérola da vez. E, entre cigarros e conversas sérias e frases soltas e esperanças lançadas, eu passo assim as horas com amendoins e sucos de soja repousados em cima do violão desafinado. É bem legal quando você tem alguém assim que possa te acompanhar até a outra ponta da esquina só porque vocês estão com sono."
Pausa para tentar terminar o cigarro.
- "E nem parece falta de educação, sabes? Assim, ficar caladona do lado dela. Porque ela entende e ela vai tá sempre do meu lado, você me entende? Ela é a minha pessoa, cara! E assim falando esse bando de baboseiras eu me sinto com uns quinze de novo e pronta pra fazer qualquer merda que vá tomar o mundo. E assim, com ela do meu lado e tudo o mais. Só que aí, quando você tá nesse seu mundinho do sono, a hora passa tão rápido que logo eu tinha que descer pra buscar o meu neném na escola. E eu nem tinha reparado que eu já havia crescido tanto, você me entende? Mas eu sei que vou ter sempre aquela esquina pra dobrar com ela, pra voltar pra quem eu era, pra voltar a respirar. Porque é ela, cara. A gente é bem assim, feito uma batida de carro logo na Princesa Isabel. É, a gente é bem assim. Mas aí o tempo teve que passar, ? Ele sempre passa; ele sempre me passa, esse filho da puta. Mas um dia eu pego ele, ok? Ele que me espere."
Silêncio.
Traga pela última vez e apaga o cigarro.
- "Mas aí então... saímos de volta do nosso mundinho pro mundo dos homens, dos grandes. Mas não tem problema não, meu chapa, meu anjo 'tá comigo. E só descemos mesmo porque eu realmente precisava fumar e já, já a gente vai voltar. Ah vai."

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Meus vinte melhores amigos estão dentro de um maço de cigarro.

- f a t o.

domingo, 10 de maio de 2009


Carne cortada, derme remendada, ossos quebrados e nervos à flor da pele. O corpo completo, o ser como um todo.
Sangue pulsando quente e forte, jovem e limpo, limpo e limpo. O corpo grudado na alma, o ser como um todo.
Caminhei por dias entre diversas escolhas.
Caminhei por dias entre diversas possibilidades, sempre escassas, tão admiradas.
Se é natural? Não sei. Mas é forte, não há saída.
Se é pecado? Não sei. Mas é real, minha melhor recaída.
Não é motivo para grades e correntes, tentando racionalizar o que está acima da razão.
E nervos e costumes e valores e sentimentos e hormônios pulsando quentes contra a capa.
Não há motivo para tanto alarde, não há motivo algum para tanta confusão.
Dentro do amor não cabe nenhuma razão.
Se é o certo? Não sei. Mas é meu, e é definitivo.
Se é o melhor? Não sei. Mas é dela, e espero que seja infinito.
E todas as escolhas por entre as quais caminhei me levaram até ela.
Por entre diversas possibilidades, só tua árvore floresceu.
E a razão? A razão se enfureceu.
O dia escureceu.
E a liberdade se perdeu.
Um pássaro com asas cortadas não voa alto, mas voa.
E é assim, voando baixo, que voo para fora de tuas grades.
Não há motivo para tanto desespero se teu erro é meu acerto.
Voando baixo, assim baixinho e devagar mas certeiro, eu voo pra longe de tuas correntes.
Se é bonito? Sim, é.
Se é doloroso? Sim, é.
Se é em vão? Pouco me importa.
É meu e veio como um furacão. Pouco me importa se me quebra as pernas pois me trás vida.
Cada ferida aberta, cada batalha perdida - tudo é meu, tudo é dela e o conjunto é belo.
Carne servida, derme repartida, ossos esmigalhados e nervos adormecidos. O corpo em partes, o ser perdido.
Sangue escasso e podre, escorrendo pelas mentiras, tão jovem e sujo, sujo e sujo. O corpo esmagando a alma, o ser perdido.
Caminhei por entre consequências sempre tão duras.
Caminhei por dias entre o sim e o não, o desejo e a razão.
Mas dentro do viver não cabe razão alguma.
Se é natural?
Pecado?
Certo?
O melhor?
Doloroso?
Bonito?
Em vão?
Não sei.
E o seu?
Você não sabe;
nem quer saber.
É natural;
pecado em sua mais pura concepção;
é certo, errado;
o pior que eu poderia encontrar;
é lindo em cada traço horrendo;
é em vão, assim como qualquer outro amor.
Mas é meu.
E o seu?
E o seu?

sábado, 9 de maio de 2009

Ok.

quinta-feira, 7 de maio de 2009


E eu finalmente pude encontrar seus olhos outra vez.
E mergulhar
fundo
em minha própria decadência.

Não vá, por favor.
Diga o que quiser,
me trate como for.
Só não vá, por favor.

Preciso encontrar você,
te tocar,
te conhecer outra vez;
eu preciso consumir você.

Não vá, por favor.

Está me matando,
mas enquanto eu puder olhar em teus olhos,
seguirei te amando.

terça-feira, 5 de maio de 2009

i climb, i slip, i fall
reaching for your hands
but i lay here all alone.

if i could find out how
to make you listen now
because i'm starving for you here
with my undying love.

and i will breathe
for love tomorrow
'cause there's no hope for today
i will breathe
for love tomorrow
'cause maybe there's another way

i've always wanted you and i love you now.
now i do, i want you. i love you, i love you.
i've always wanted you and i always will.
i've never noticed but i need you, love you.
i've always loved you and i know, i always will.

domingo, 3 de maio de 2009

a perfect sonnet

cause that's all that you'll get
so you'll have to accept
you are here and then you're gone
but I believe that lovers should be tied together
thrown into the ocean in the worst of weather
left there to drown in their innocence
but as for me I'm coming to the final chapter
i read all of the pages and there's still no answer
singing, I believe that lovers should be chained together
thrown into a fire with their songs and letters
left there to burn
left there to burn in their arrogance
but as for me I'm coming to my final failure
i've killed myself with changes trying to make things better
and ended up becoming something other
than what I had planned to be
i believe that lovers should be draped in flowers
and laid entwined together on a bed of clover
left there to dream of their happiness


Conor Oberst - A Perfect Sonnet

sábado, 2 de maio de 2009

E eu nunca estive tão feliz de ter mudado.

domingo, 26 de abril de 2009

meu segundo sol


Saiba que teu amar é meu pior castigo
Saber que é minha a dor de teu sorriso
E distante quando deveria estar contigo
Meu sorriso, de incertezas, sempre conciso

Saiba que teu amar é meu melhor castigo
Que preenche a lacuna dos outros ouvidos
Pequenos surdos de meus gritos envaidecidos
Meu ouvido, de certezas, sempre adormecido

Saiba que teu amar é pra mim um fardo
Que dispenso carregar, dispenso tocar
Com a mesma certeza que um mal amado
Tem de que nunca irá saber o que é amar

Saiba que teu amar é pra mim uma salvação
Uma luz no meio de uma multidão, uma mão
Pronta como sempre pra salvar meu coração
Só não chore se ele for sangrar em negação

Saiba que teu amar é por mim ignorado
Trocado toda manhã por um novo disfarce
Sempre tão presente, doce amanteigado
Que se desmancha em milhares de ataques

Saiba que teu amar não vai me mudar
Não vai me moldar, não irá me salvar
Saiba que teu amar é meu pior castigo
Mas não me desculpo por acabar contigo.