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domingo, 11 de abril de 2010

Não sei quem foi que surgiu com essa idéia de que artista tem que ser miserável, uma personificação de um ser humano denso de decadência. Também não sei quem a espalhou. Só sei que, pra mim, colou.
Desde então, ou melhor, desde sempre - ou a partir da onde ainda me permito manter registros memoriais - tenho tentado piorar, apodrecer. Em miúdos, me tornar essa massa mofada que todo artista supostamente deve ser. Porém, continuo com essa mesma necessidade selvagem de escrever, digo, produzir (nessa altura do campeonato estou aceitando qualquer coisa). Sim, eu continuo com essa insônia maldita, a casa cheia e barulhenta, essa vida de merda e escrever que é bom? nada.
Mas a culpa não é minha, não mesmo. Ninguém cala a boca na merda dessa casa. Mordaças? As minhas, só se for.
E agora mesmo isso aqui está um inferno, mesmo às três da manhã, Mas tudo está ok, nos trinques; eles compraram um sofá novo.
Gostou de seu novo trono? Que bom. Você parece um bolo de merda sobre ele.

Decidi que ia começar um diário. Desisti.

Só sei que preciso de alguém que mude meus dias por que eu não quero mesmo, de forma alguma, fazê-lo sozinha. Quero muito alguém, ou simplesmente um maço de cigarros cheio. Serve também essa cafeteira expressa que mais parece um bule de ferro. Taí algo que acho maravilho, impressionante - essa cafeteira. Se um dia eu conseguir fugir para algum lugar, ela é tudo que preciso levar.

E essa chuva? Passa e volta, passa e volta. Não consegue se decidir, parece até...

Não me pergunte o quê estou fazendo. Eu não sei e bem tenho raiva de quem sabe. É sério.

Meus 19 anos estão chegando, eu já disse? Caixão branco, ainda. Mas ouvi que há certas esperanças de mudança. Mas não quero saber; esse setor de minha empresa não apetece em nada à minha pessoa.

Acho que tive um outro sonho estranho essa noite. O passado tá voltando, creio eu. Talvez tudo esteja começando a bater, finalmente.

Estou amando minha letra nesse caderno. Queria carregá-lo pra vida.
Estou também pensando em espalhar post secrets pela faculdade, mas me atropelaram e vieram com bilhetinhos aleatórios muito antes que eu pudesse tocar esse projeto furado pra frente, é. Meu nome apareceu em um desses, falando nisso. O último.

Não adianta contar carneirinhos, porra. Eu já disse. Esse vazio não passa.

Saudades dos tempos de Empório e vinhos baratos na orla de Ipanema. Minha adolescência em cativeiro tem se sentido muito idosa ultimamente.

Talvez esse seja o meu problema e eu esteja em crise de meia idade e só agora o percebi. Tem nada não, eu vou mudar. Vou dar um corte nesse cabelo e arrumar uma outra tatuagem. Ou então só mudar do Lucky Strike; nao preciso de sarcasmo até mesmo no veneno de rato que trago.

E ainda por cima estão controlando meus cigarros, meus passos, supiros. Mas não minhas mãos; arrepios. Vertigens.

Anda tudo meio fora de nexo, como sempre; feito essa caixa do kinderovo de páscoa - não fecha, não encaixa nem por um caralho. Talvez eu precise mesmo voltar a emagrecer.

Taí outro dilema. Incrível como uma coisa puxa à outra, não é mesmo? Engraçado que me lembrei agora, e nem sei o por quê, de uma conversa que tive com a Fernanda, no Empório (saudades dessa menina; e dessas que pulsam). Com uvas verdes e saquês e tempo de sobra em nossas mãos em um de nossos gloriosos sábados de aleluia pessoal, entre cigarros e estrangeiros, invasores secos de nosso paraíso enlatado, puxamos fendas de uma face à outra, criando nossa própria corrente de ouro; de planos, de sonhos, de...
a banhamos em um desses dois Oceanos que eu nunca lembro qual é. Vai de um continente ao outro, essa nossa corrente. É pra sempre - eu mesma já a testei.

Falando nisso, "mesma" existe? Lembrei agora que preciso estudar Português. Estudar e emagrecer; o ombro tá roçando gorduroso nessa camiseta velha e vermelha que não tiro há três dias.

Engraçado permanecer numa vida que só segue girando num mesmo ponto fixo dessa engrenagem qualquer. Principalmente quando tanto se esperou aquela carta aos 11, a mão divina que tiraria a merda da frente do ventilador. Mas ela nunca nem sequer fez menção de chegar. E aqui continua-se na mesma, só que agora o fedor já está ficando insuportável. Os Correios brasileiros são mesmo uma merda.

Quero viajar. Talvez eu realmente fuja, mas antes preciso comprar aquela cafeteira. Vou pesquisar sobre ela no google. É assim, prata, feito um bule de ferro, como eu já disse. Ou seria de alumínio? Se for, é dos grossos. Mas me parece ferro; toquei e senti ferro. Dá para três xícaras, seu café. Abri a bichinha, examinei-a de rabo a cabo, de dentro pra fora e vice-e-versa e toda ao avesso. Mas confesso que ainda não entendi como sai algum café de lá. Ou como ele ali entra, enfim. Mas eu quero.

Preciso também de silêncio. Meu cérebro está prestes a explodir, ou talvez tão somente eu mesma (mesma?). Acho que vou perder a maldita das estribeiras (não que algum dia eu sequer já tenha feito idéia do que diabos viria a ser isso, estribeiras).

Preciso da cafeteira, de silêncio e de alguém. Fumante, de preferência; meu golpe de sorte. Não sei se quero ou se sequer deixaria correr o risco de permitir dar certo (ou de ser o mais correto, enfim). Não quero que perca a graça, entendes? Mas preciso do enjôo, do nervoso e medo constantes; de aceitar jogar só pra perder. Mas... sei não.

Alguma hora, até o mais infeliz dos insônes tem que cair e se deixar dormir.

your check out is at noon.
and then everything went grey once again. "That's the way I like it", she said. But it'll hurt, it's too deep, too expensive, voices were heard. But it was written all over her fucking face, glowing; her sex was bubbling up as you stood corrected. Those four letters me. That's the way we all learn to like it, indeed.   

além do ponto²

enrolo os braços em volta das costelas, sozinha.
o céu cai em água podre e nojenta, uma maravilha.
meu palácio dos restos de seu império indecente
desmonta podre, levado e lavado nessa água benta.

mergulho solta, pura num sono tranquilo em seu pudor.
fecho os olhos e enforco a dor em teu cantar
lava o sangue e a merda das minhas lembranças, Senhor
abençõa quem sente dor e não sabe chorar.

promete que essa chuva que me afoga um dia terá seu fim
que a enchente que a engole, serena, um dia chegará a mim
inunda minha armadura, pode vir. estarei esperando por aqui.

mas me apaga dessa terra, eu te suplico.
esquece as regras, as métricas;



                                              porque eu desisto.
vem cair sobre mim, mar do céu. só me leve conti go.

terça-feira, 6 de abril de 2010

no one ever knows, baby, and yeah, nobody cares.

nothing gets crossed out

Decidi que hoje era dia de escrever.
Acordei sozinha, atrasada, entupida. O mundo lá fora se afogava, parado, e era chuva que não acabava mais, com as nuvens tapando o quadrado de visão da minha janela que eu costumo conhecer. Meus pais e irmã reunidos na sala, atentos à voz irritante da âncora do Globo News, apreensivos com a porrada de água que atingia o Rio de Janeiro. “Dia de escrever”, pensei.
Já faz um certo tempo que não venho aqui, eu sei (o quê, aliás, apenas aumenta a minha desconfiança de que ninguém mais vem aqui, talvez a tanto tempo quanto eu) e essa manhã de aspecto cinzento e clima nostálgico me deu saudade desse cantinho. Então, como já disse, era dia de escrever.
Mas agora já nem é mais manhã e acabei de deitar na cama com o laptop servindo de cobertor, esquentando minhas banhas. Quero escrever e sei sobre o quê, mas não encontro o caminho. Sei qual esquina dobrar, mas não sei onde diabos está o começo. Quero escrever algo que seja bom de ler, não só de cozinhar, entendes? Por que, você sabe, escrevo para desabafar (terapia anda cara hoje em dia, só pra constar) e depois que termino – e o faço com um certo orgulho, deveria dizer – nem mesmo eu consigo sobreviver por um texto inteiro. Quero algo diferente. Senso, cadê?

Peguei uns livros, selecionei aquela playlist esperta no Grooveshark, acabei com o cigarro da minha avó enquanto a cobertura em tempo real do temporal rolava solta só para me distrair... enfim, inspiração viria na certa, certo? Errado. Mas estava tudo completo, tudo perfeito para garantir mais um texto seboso de drama, dúvidas e todos os temperos aos quais costumo recorrer quando tento criar alguma coisa. Mas algo não encaixava. Ficar ilhada no décimo primeiro andar, seca e com calor, enquanto o mundo lá fora se desmanchava em água suja não me basta mais... quero mudar de lugar.

Ou não. Mas procurei estágio, procurei cursos, resolvi que mudaria de profissão (já mudei de cabelo, de corpo, não há mais o que mudar por aqui...) e, no final das contas, a mesma necessidade, agora já gasta e antiga o suficiente para incomodar, continua aqui, corroendo que nem essa suposta fome selvagem que sempre me acompanha.
Não que eu me preocupe de verdade com o futuro, mas, mesmo assim, a sensação de vaguear por aí aleatoriamente já está machucando. Viver sem correntes, pregando o desapego, é como passar o dia andando pelo Saara com uma pedra numa sapatilha da Melissa. E uma alguns números maior que o seu pé, na verdade. Que entra e sai à toda hora, simplesmente não encaixa e, ainda assim, você não consegue tirar a maldita da pedra de lá. Logo você já está tendo um ataque de nervos, literalmente, e uma simples pedrinha no seu sapato da temporada toma a forma de seu limite, neon, piscando à sua frente. É.

Mas e conseguir produzir algo que possa se travestir de útil, onde entra nisso?

Então, já que a terapia continua cara e com essa chuva lá fora duvido que algum terapeuta esteja dando plantão, cá estou eu, roubando seu tempo num dia precioso para cariocas como esse. Não peço desculpas dessa vez porque eu realmente preciso disso. Só peço que volte. Seja feito filho pródigo, seja para me apedrejar (tenho uma vibe de Madalena muito louca, você já deve ter percebido) ou para simplesmente passar por aqui e confirmar que continuo viva; não importa, só volte. Odeio me sentir sozinha.