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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Preciso de uma válvula de escape pra essa minha consciência prolixa - cala a boca, cala a boca, cala a boca!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Amor é que nem dor de barriga - dá e passa. Mas volta, sempre volta.

(E as garrafas? Ahh, cheias de produto pra regular seu intestino, dica.)

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Outubro

Outubro. Décimo mês do ano. Primavera. Estação das flores.
Toda primavera é assim. Um encontro, um erro. Dessa vez um fim.
Um telefonema, um passo dado em falso, e tudo o que tanto me era apreciado, deletado.
Sorrisos, lembranças. Todas as brigas, uma vida. Excluídos com um simples clique.
E então a distância pareceu milhas. O ontem pareceu uma outra vida, hoje esquecida.
O silêncio quebrado de tempos em tempos pelo eco doentio das nossas feridas, acabado.
Não há mais nada aqui, nem mesmo o vácuo para preencher o que fora apagado.
Outubro. Décimo mês do ano, dos três anos. Estação das flores.
Estação do fim.
E tudo que é apagado, uma hora é esquecido.
Toda ferida que é aberta, uma hora sara.
Toda história que é rasgada, uma hora emenda.
Toda mulher que se quebra, uma hora se levanta.
Toda vida que se acaba, em outra recomeça.
Não quero mais esperar pelo décimo mês do ano. Não preciso de uma Primavera.
A dor acabou e a hora essa. E que não sejas nem um pouco tão feliz quanto eu, amor.
Espero que um dia, em Outubro, numa Primavera, você pague por toda minha dor.

~#~

Esfregamos nossos segredos na sacada
É o fim, o tão falado ponto de chegada.
A nossa lógica largada e escurraçada
dança em mim, tão pesada e inacabada.

E é Outubro, amor! Décimo mês do ano; é mês do erro!
Acaba uma vida, anjos mancando no aterro. Mês do desespero!
E é Outubro, Senhor! Décimo mês do ano, do inteiro!
Nasce uma vida, anjos caídos no terreiro. Mês do milagreiro!

Apagamos nossos segredos no passado renegado
É o fim agora, sinto no meu sorriso seco e afogado
As palavras ecoando em nosso doce impasse adorado

Dizem que é Outubro, meu amor! Mês da nossa Primavera. É o mês da dor!
O que era, já não é. O que ia ser, nunca será. E o que foi já acabou!
Pois é Outubro, Senhor! Primavera já não mais, então agarre o que ficou.

blow it, motherfucker!


HELL YEAH!

E no meio dessa busca desenfreada pelo meu futuro lucrativo (como se arrumar o quarto fosse ajudar, hmm) eu achei dois textos velhos (ok, um deles nem é tão velho assim :x) e idiotas que... Enfim, leiam.

Arco-Íris Sentimental
Então, né? Acabou... É! Simples assim! Sem mais nem menos... Na verdade, creio que o erro foi meu; sempre nesse desespero de arrumar algum saco de arrependimentos pra deitar ao meu lado e eu não dormir sozinha. Mesmo que desde o começo fosse tão óbvio que o nosso prazo de validade já estivesse assim tão próximo de vencer, eu não me importei. Eu nunca me importo.
Apesar desse vácuo que surgiu de repente entre eu e ele, gosto de lembrar da gente como um arco-íris. É lindo pra cacete, todo coloridinho e tudo o mais, sendo que por mais que pareça próximo, você nunca consegue o tocar. E esse nem teve pote de ouro nenhum no fim, e olha que eu realmente persegui essa merda.
Mesmo com toda a distância, eu insistia em protegê-lo; com todas as nossas diferenças (hoje eu vejo o quanto ele sempre foi burro e aquilo definitivamente não era um charme) eu tentei. Nadei, nadei e morri na praia. Ou melhor, quem morreu lá foi ele (e espero que tenha curtido a noite na areia, dica!)
Não adianta, meu lado melodramático e mexicano sempre vence e por mais que eu tente não sai nada de engraçado disso. 'Tá... Talvez o carnaval formado em plena Ipanema (daqui, agora, assim de longe... Até que dá pra rir, sabia?) e ele pegando suas coisas e todo aquele silêncio constrangedor dentro do carro até tenham algo de cômico.
O triste é que um relacionamento nunca termina sozinha, sempre leva uns cinco com ele. Mas no final das contas isso até se torna um lucro, seu time ignora o meu e assim temos tempo o suficiente para nos deletarmos da memória e do Orkut um do outro.
Se te apago do meu histórico virtual, logo logo você some da minha vida de vez.
Ps.: Devolva minhas roupas, porra!

~#~

Tudo foi lindo, digno de cena de filme. Ele, tão ele mesmo quanto só ele poder ser. Eu... Bêbada.
No quartinho de empregada de lá de casa, com o resto do pessoal já lá pro décimo sono, eu finalmente criei coragem e tomei a iniciativa. Nunca foi segredo pra ninguém toda aquela tensão que sempre existiu entre a gente e meu Deus!, eu já tinha terminado o Segundo Grau e era a única que continuava a mesma... Não dá, tia!
Ou melhor, dá. E eu dei. Sempre ouvi que camisinha era essencial e eu até tinha meus meios um tanto sórdidos de colocá-la, mas não deu tempo. Foi tudo rápido demais. E pra dizer a verdade, eu não lembro. Ele veio, eu fui, continuamos indo e vindo e pronto, eu tinha dado e já não precisava seguir me sentindo a excluída da população carioca quando o assunto era sexo, o que era, de fato, a única coisa que todos falávamos sobre.
Tudo foi lindo, ou não. Na verdade, tudo permanece uma lacuna até o momento em que acordei enrolada nele e com a cabeça explodindo. Pouca coisa mudou em mim, nada mudou nele e, bem... Nunca existiu "a gente", então... Os dias foram passando e continuamos "treinando" pois a prática faz a perfeição, já diziam nossos ancestrais. E proteção nunca é demais, e como menos é mais, íamos sempre sem papel nenhum na bala.
Agora estou sentada no banheiro da escola, com esse 'negocinho' branco na mao e esse maldito sinal rosa nele. De repente voltei a me sentir a excluída; a burra. Ok, respira fundo. Talvez nem tudo esteja perdido, ele sempre foi um grande amigo, certo? Certo. Só não sei o que isso vai mudar entre a gente. Espera... Que "a gente"?
É, fudeu.

Sim, não sei escrever textos de mulherzinha haha
Gente, socorro.
Eu preciso de idéias baratas, rápidas e eficazes (não sou Cebolinha pra viver me fudendo com planos infalíveis, ok? Obrigada) de fazer que essa porra de futuro promissor que me prometeram lá em cima vire logo presente e eu saia dessa merda em que estou. Mas, enquanto vocês não me vêm com uma solução paradinha eu fico pois você sabe aquela do passarinho, né? Se pousou num bandimerda, paradinho fique, pois quanto mais você se mexe, mas na merda afoga. Juro. Papai quem disse.
Já são quase duas décadas de vida, cara. Repito, duas décadas de vida. E eu não tenho emprego, fama, dinheiro, filhos, família normal e, principalmente, um marido. Ou seja, caso você tenha qualquer um desses itens e queira me doar - tamos aê, amiga!
Sim, hoje é um daqueles dias em que você tá suplicando, mendigando, implorando, chorando, esperneando por até um quilinho a menos no final da semana ou ao menos um namoradinho (inho? Hmm. Quem lê até pensa) de fim de semana. Sim, hoje choveu o dia inteiro e a TPM deve estar vindo. Lá vem post triste, hmm.
E estou em choque: mamãe apoia posar nua. êlêlê. Desde que a proposta seja de 500 mil em diante. Eu ri.

Nota mental: não ouvir Bright Eyes em dias de TPM.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Oops I did it again.

Resolvi investir no meu futuro. Aí eu cheguei à dúvida: não sei se faço intercâmbio ou se coloco silicone. No duro.
Juro mesmo, não faço idéia de o quê escolher entre os dois. Não sei o que vai me dar um futuro mais brilhante: um belo par de peitos para abrir todas as portas para mim sem que eu tenha de usar as mãos ou então seguir o que toda boa menina da minha idade faz – fazer o tal intercâmbio.
Sei não, viu? Afinal de contas, intercâmbio de cu é rola e eu vou provavelmente voltar uns 20kg mais gorda – e sem os tais peitos. E o que isso mudaria na minha vida? Eu aprenderia uma língua que eu já sei? Eu conheceria gringos escrotos e outros felizes (coisa que mais faço na vida)? Eu aprenderia a me virar sozinha (como sempre)? Continuo achando que os peitos são muito mais interessantes.

Não que eu seja uma menina fútil e tudo o mais, não mesmo! Mas eu não quero faculdade esse ano (uma vez ouvi que faculdade era para feias, tô quase concordando de verdade) e depois das minhas entrevistas de trabalho vergonhosas eu acho que já ta meio óbvia minha aptidão para não fazer nada vezes nada, então por que não colocar silicone, hein? Eu ia ficar com uma comissão de frente de respeito-peito-peito e podia arrumar um marido rico e... Ok, não.

E é por isso que eu fico de cara com a minha formação. Fui de mal a pior só no meu Segundo Grau e gente, não sei fazer nada além de falar mal de quem não é eu. Por isso que eu decidi fazer Jornalismo Esportivo e jogar com a vida dos outros nas colunas sociais. Mal posso esperar para construir um bocado de Paris Hilton e destruí-las quando eu encontrar algum casal com potencial a lá Lilo e Sam para me divertir, juro. Deve ser um pouco mais divertido do que destilar ódio e drama sobre o meu futuro incerto.

De qualquer forma, minha família tá num rebuliço que só. Minha mãe quer me mandar pastar num outro continente por um tempinho e quer que eu tenha tipo o futuro brilhante que toda mãe que se preze sonha para sua filha. E, para não decepcionar a mamãe (oooutra vez), eu decidi desde o começo das férias que mudaria a minha vida e provaria pro mundo o quê diabos eu estou fazendo aqui. Sendo que desde então eu só sentei a bunda na frente do PC e assisti as horas passarem, juro. Mentira, eu assumo. Fiquei um tantinho bêbada aqui e ali, briguei com uma pá de gente, miacabei de tanto assistir meus micos no mercado de trabalho, fotografei uma pá de idiotas, comecei ao menos umas vinte idéias diferentes de roteiros, livros ou bandas. E, claro, causei com a mulher da Mondo que me odeia em pleno backstage da Alanis simplesmente por que oi? Ela ta pensando que é quem? Só Zanessa pode me gongar, querida. Tu não! Repito, tu não. Ao menos não enquanto você não aprender a se vestir melhor do que aquela porra de embrulho de Natal que você tava usando semana passada, enfim. Já tá na hora de apagar prolixa das minhas qualidades.

E sobre destilar ódio, lembrei do hotel da canadense entediante. Fico tão surpresa com essas pessoas bizarras que conseguem me achar aleatoriamente nos momentos mais impróprios. Lá estava eu, no Intercontinental (eu deveria saber que passaria uma semana lá, me contorcendo, sem agüentar mais ver minha cara naqueles espelhos. Pff) brisando para sempre, esperando a hora passar logo e algo realmente acontecer para tirar minhas férias da merda, quando ele apareceu. Essa bicha escandalosa que se acha a dona da verdade. Adoro todo o tipo de pessoa, desde que ela não respire perto de mim tempo o suficiente para eu odiá-la. E meu Deus! Ele não respirava não, neguinho. Ele me sugava praquela sua máquina de arco-íris até me mastigar o bastante e eu sair esbanjando simpatia tal como ele. Way to go, queridinho. Way to go. Eu mal podia esperar para dar logo 18:30h e ele finalmente ir embora. Foram as 3 horas mais longas da minha vida, com exagero, é claro. Ao menos, dali saiu algo que prestasse - minha constatação de que sou pura intensidade, ou seja, que eu sou exatamente aquilo que mais odeio nas pessoas. Quando eu amo, amo muito, feito doida e às vezes dura tão pouquinho... E quando eu odeio, ahh sim, vou odiar até o fim dos tempos com toda a paixão que o meu corpo lânguido permitir. E é isso que tanto me enoja, seja em mim ou nos outros. Todas as vezes que eu mandei o mocinho calar a boca transbordavam de intensidade. E não é que ele gostou? É sempre assim. Quanto mais você pisa, mais o bicho gruda, não adianta. É que nem chiclete, sabes? Quanto mais pisa, mais gruda.

E ai ai, tô apaixonada de novo. E nem ligo que ela não vá corresponder meeeesmo. Mas dessa vez tá difícil, tô numa vibe arrebatadora, tipo novela das 21:45h. Tô a ponto de sair cantando “I’m a slaaaave 4 uuu” por aí e culpar tudo na Marguerita. Depois que aprendi isso, vi o quanto é lindo cagar na entrada e na saída e culpar tudo na bebida. Tal como Madonna, Blame it on Rio, dear.

Sou gente grande, beijos mil.


Ui, me apresentei! Nunca que as minhas férias foram tão inúteis e proveitosas ao mesmo tempo. Causei, né? Tive entrevistas de emprego e tudo! Bem aquelas experiências super necessárias que todos contam com orgulhos quando saem do período “menores de idade” e que você amaria, repito, amaria dispensar. Uma entrevista por MSN cairia muito melhor do que chegar toda tremendo, suada, atrasada por causa do trânsito e responder as únicas coisas pra qual não tenho resposta, AS ÚNIIICAS além da fama e o porquê da Casa Branca ter um presidente negro cujas filhas recebem festinha de pijama dos Jonas Brothers e eu não. Hmmm.


Cheguei no horário combinado pela Rogéria. Jesuuus Christ! Rogéria. Odeio mulher de nome feio, acho o fim. Cheguei lá de manhã em pleno fim de semana. Sabia que o emprego ia ser pra atendente do tal curso de Inglês (Yes!, dik) mas tava cagando, né? Afinal de contas 600 contos só pra mim fariam uma puta diferença no final do mês. Já me visava cheia das lingeries de moda e... Não. Sentei lá no meio de troceeentas piriguetes e esperamos por quatro horas pelo travesti que seria nossa chefe chegar. Já não gostei, né? Causou mais que eu antes mesmo de dar as caras pelo lugar e a dor de barriga que eu tava sentindo às 9 da manhã daquele sábado quente típico de Rio de Janeiro. Taquara. Sim, nem sei como eu não me perdi por lá.
De qualquer forma, Rogéria ou Roberta, já não tenho mais tanta certeza, nos levou para uma sala onde faríamos a prova de Português. Parei tipo oi?! Para que uma prova de Português? Eu deveria fazer um teste sob pressão psicológica de pais escrotos de alunos mimados, não? Não, a prova era única e simplesmente de Português. Você sabe, colocar os pingos nos is, acentuar corretamente e saber a diferença entre J e G. De lá, me carregou pra um daqueles testes de Excel em que você sabe que ta fazendo tudo certo mas simplesmente não tem a certeza de que dois mais dois dão quatro sim! Tudo graças ao calor do Rio de Janeiro e a atendente lixando suas unhas do teu lado e irritantemente batendo o salto no chão.
E, de lá, fui para oooutra sala. A tal da entrevista. Começaram as perguntas:


-“Então você terminou o Segundo Grau ano passado, certo?”
-“Uhum.”
-“Você tem 17 anos, completando a maioridade em Maio, certo?”
-“Uhum.”
-“Aqui diz que você já deu aulas de Inglês para crianças. Então tem experiência em cursos de Inglês, certo?”
-“Uhum.”
-“Agora me fale um pouco sobre você?”
-“Ahh...”
-“O quê você faz?”
-“Ser eu?”
Pronto, matei a porra da entrevista. A Roberta-Rogéria-Rosamaria-Travesti trocou uns olhares com a mulher ao lado dela e eu sabia, na hora!, que ou o emprego era meu ou elas queimariam meu filme até Realengo, no mínimo.


--


Menos de uma semana depois surgiu outra entrevista de emprego, dessa vez para dar aulas de Inglês num curso cujo nome eu não lembrava porque quando eu me inscrevi estava muitíssimo brisada, e em Vargem Pequena! Onde?!
De qualquer forma, lá fui eu algum dia da semana, de manhãzinha, dessa vez num dia de chuva, para outra entrevista de emprego. Dessa vez eu estava decidida a ser levada a sério e já tinha até treinado algumas respostas pras perguntas cretinas que a Travesti e companhia me fizeram na semana passada. Tu jura, né? Chegando lá não ia lembrar nem meu nome.
Primeiro que meu currículo tava encharcado quando consegui achar uma papelaria pra comprar uma daquelas pastinhas e pá e bola. Tudo lindo até então. Meu estomago revirou quando eu me toquei que não fazia idéia do nome do curso e muito menos de onde ele ficava naquele ‘shopping’. Fui pedir ajuda ao homem da cabine do ‘estacionamento’ (incrível como tudo em cidades pequenas parece versões pocket do que realmente existe na cidade grande, hmm) sobre onde ficava o tal curso de inglês, morrendo de medo de encontrar tipo uns três diferentes. Mas como já era de se esperar, só tinha um curso no lugar. Menos mal, certo?
Subi as escadas descobertas na chuva, sabendo que não seria dessa vez que eu reinaria soberana. Dei três voltas antes de achar a porra do curso e já entrei xingando dois caralhos consecutivos, logo de cara pro meu ex-futuro-chefe, chamando mais atenção do que eu realmente deveria. Já tinha umas três moças sentadas lá e comecei a minha pesquisa mental e silenciosa, sobre quais delas tinham cara de professora. “Hmm, só duas delas e esses dois caras aí nem rola, né? Dá pra derrubar as duas”, eu sussurrava mentalmente e já exibia meu sorriso falso, crente que era gente e que tava causando e com a vida ganha. Tinha até plano de saúde, mano! Não sei pra que outro, mas dá a impressão de que sou realmente importante para a empresa a ponto de zelarem pela minha saúde, né? Não iriam querer que a professorinha deles morresse de alguma gripe do frango ou coisa que o valha.


O homem-da-porta-que-ouviu-meus-caralhos entrou no curso (minúsculo, por sinal) depois de todos os candidatos se espremerem na (minúscula) sala de espera/secretaria/sala de aula. Chamou um a um, por ordem de chegada, para sua não menos minúscula sala e eu, como não sou boa, dei minha vez pra uns quatro (incrível como tem professores de inglês nesse estado!) e acabei tendo de entrar senão daria muito na cara a cagona que sou. Cambaleei no meu all star lavadinho pra parecer pessoa séria de família e acabei entoando um semi-tonado “Booom diiia!” que não pareceu levantar nem um pouco o humor do nerd-baixinho-de-óculos-redontos. Ele leu meu currículo (de uma só folha, e isso porque minha fonte não é nem um pouco pequena como o curso dele) e entoou uns vinte “hmms” enquanto maneava a cabeça, pensativo. Pediu para que eu assinasse e datasse a tal folha “Mas que dia é hoje mesmo?” e esperasse na outra sala. Ok. Tchau, fui.
Mas que porra de sala é essa?! As cadeiras não agüentavam nem metade da minha bunda e era tudo colorido demais, feliz demais para uma entrevista que estava prestes a me dar credibilidade de cidadã na sociedade. Bem digno de Jéssica mesmo. Esperei durante uns 40 minutos no meio de tanta gente velha reclamando da crise e resolvemos conversar sobre nossos empregos. Quando ouvi da boca de cada um que eram da área de vendas, caralho, sorri triunfante! O emprego e a dignidade são meus! Ahá! E não há quem tasque! Se eu já estava me achando a última professora do pacote quando tinha uns 5 potenciais concorrentes, quem dirá agora sem nenhum!
Foi quando a versão GG do Harry Potter adentrou a sala super-mega-hiper-colorida e anunciou, pouco delicadamente, que devíamos tipo assim resumir nossas pessoas em 10 minutos. Nosso estado civil, opção sexual, experiências de vida, se nossa casa era alugada ou própria, nosso time e religião deveriam caber nestes 10 minutos estipulados para evitar eventuais problemas. Uhum... Time? Oi?! Nem ter time eu tenho! Boba que não sou, me deixei ser a última só pelo prazer de poder deixar meu intestino se acalmar e eu não correr o risco de me borrar bem ali na frente daqueles quarentões. Depois de assistir entediada às histórias de vida de meus concorrentes serem interrompidas, levantei da minha cadeira amarelo-gema e fui pra frente de todos, batucando Toxic nas pernas. “Então, né? Meu nome é Jéssica Happatsch (incrível a quantidade de Marias, Silvas e Souzas que tinha ali), tenho 17 anos (a mais jovem já tinha idade pra usar botox), terminei meu segundo grau o ano passado, só tenho experiência em lecionar Inglês para crianças e...” Pararam boquiabertos e o climão reinou na sala. Agora era fato de que o emprego seria meu, eu definitivamente era a única a estar ali para dar aula de Inglês. Resumi minha vida em míseros 3 minutos e foi aí que a crise pairou sobre mim. Quem sou eu? Pra que diabos eu existo se minha existência cabe em três minutos (com tempo reservado para um gaguejo aqui e outro ali) e onde eu ia parar? Meu Deus, que merda. Sentei na cadeira amarelo-gema de novo e esperei que tudo voltasse a como estava antes, menos meu intestino, é claro.
Aí o gato do meu ex-futuro-chefe me chamou novamente para a sala dele. Resolvi aproveitar o silêncio de outra forma dessa vez, admirando os cartazes cheios de incentivo colados na parede cinza e gelada do cômodo não menos estreito que os outros que eu havia visto. Um bando de cartazes com imagens de gringos sorrindo e dizendo que Yes We Can! Tentavam dar um ar otimista para a sala deprimente do gordinho. Depois de um tempo fazendo outros “hmms” ele finalmente abriu a matraca.


-“Como vejo que não tem experiência na área de vendas, eu queria saber o que lhe interessou nessa vaga.”
Como assim? Desde quando eu preciso experiência em vendas pra ensinar uma língua? Será que vender benflogin pros emos da escola conta? Me ajeitei na cadeira, essa era dura e gelada pra porra.
-“Eu amo lecionar Inglês e amo crianças! E adorei o clima desse ambiente de trabalho e adoraria...”
-“Você sabe para o que é a vaga?”
-“Para professores?” – hesitei, mesmo achando aquela afirmação a mais obvia do mundo no momento, depois da que beber antes de uma entrevista de emprego não é nem um pouco aceitável.
-“Mas a vaga para professores já foi preenchida em Novembro. Esta é para assistente de vendas!”
-“Como assim?”
-“Sim, para assistente de vendas. Amanhã teremos o treinamento. Há algum interesse de sua parte nessa área?”
Parei. Depois dessa eu parei. Sorri e disse que era um erro de alguém porque tava no anúncio na porra do jornal de que a vaga era pra professores e não, eu não quero nenhum treinamento não, cara. Não sei nem persuadir alguém a aceitar minha companhia sóbria numa balada, quanto mais alguém a abrir uma filial dum curso de inglês que eu ainda nem lembro o nome. Resmunguei mais um bocado e me levantei da cadeira gelada dele, e saí batendo cabelo. Sociedade que se foda, há muito mais o que fazer do que ficar na cidadezinha dele entulhando papéis.
Desci as escadas descobertas na chuva, rindo do meu desespero por 600 reais mensais e um titulo um pouquinho maior de importância do que ex-estudante. Resolvi que me apresentaria como modelo ou atriz daqui pra frente. Qualquer coisa soaria melhor do que... “Eu”. Ao menos consegui uma Erdinger pelo preço de uma Heineken e a certeza de não ligar para anúncio de empregos num dia de ressaca.

Ps.: Onde essas pessoas bizarras acham meu Orkut? Fico de cara, pqp!