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terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Sou gente grande, beijos mil.


Ui, me apresentei! Nunca que as minhas férias foram tão inúteis e proveitosas ao mesmo tempo. Causei, né? Tive entrevistas de emprego e tudo! Bem aquelas experiências super necessárias que todos contam com orgulhos quando saem do período “menores de idade” e que você amaria, repito, amaria dispensar. Uma entrevista por MSN cairia muito melhor do que chegar toda tremendo, suada, atrasada por causa do trânsito e responder as únicas coisas pra qual não tenho resposta, AS ÚNIIICAS além da fama e o porquê da Casa Branca ter um presidente negro cujas filhas recebem festinha de pijama dos Jonas Brothers e eu não. Hmmm.


Cheguei no horário combinado pela Rogéria. Jesuuus Christ! Rogéria. Odeio mulher de nome feio, acho o fim. Cheguei lá de manhã em pleno fim de semana. Sabia que o emprego ia ser pra atendente do tal curso de Inglês (Yes!, dik) mas tava cagando, né? Afinal de contas 600 contos só pra mim fariam uma puta diferença no final do mês. Já me visava cheia das lingeries de moda e... Não. Sentei lá no meio de troceeentas piriguetes e esperamos por quatro horas pelo travesti que seria nossa chefe chegar. Já não gostei, né? Causou mais que eu antes mesmo de dar as caras pelo lugar e a dor de barriga que eu tava sentindo às 9 da manhã daquele sábado quente típico de Rio de Janeiro. Taquara. Sim, nem sei como eu não me perdi por lá.
De qualquer forma, Rogéria ou Roberta, já não tenho mais tanta certeza, nos levou para uma sala onde faríamos a prova de Português. Parei tipo oi?! Para que uma prova de Português? Eu deveria fazer um teste sob pressão psicológica de pais escrotos de alunos mimados, não? Não, a prova era única e simplesmente de Português. Você sabe, colocar os pingos nos is, acentuar corretamente e saber a diferença entre J e G. De lá, me carregou pra um daqueles testes de Excel em que você sabe que ta fazendo tudo certo mas simplesmente não tem a certeza de que dois mais dois dão quatro sim! Tudo graças ao calor do Rio de Janeiro e a atendente lixando suas unhas do teu lado e irritantemente batendo o salto no chão.
E, de lá, fui para oooutra sala. A tal da entrevista. Começaram as perguntas:


-“Então você terminou o Segundo Grau ano passado, certo?”
-“Uhum.”
-“Você tem 17 anos, completando a maioridade em Maio, certo?”
-“Uhum.”
-“Aqui diz que você já deu aulas de Inglês para crianças. Então tem experiência em cursos de Inglês, certo?”
-“Uhum.”
-“Agora me fale um pouco sobre você?”
-“Ahh...”
-“O quê você faz?”
-“Ser eu?”
Pronto, matei a porra da entrevista. A Roberta-Rogéria-Rosamaria-Travesti trocou uns olhares com a mulher ao lado dela e eu sabia, na hora!, que ou o emprego era meu ou elas queimariam meu filme até Realengo, no mínimo.


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Menos de uma semana depois surgiu outra entrevista de emprego, dessa vez para dar aulas de Inglês num curso cujo nome eu não lembrava porque quando eu me inscrevi estava muitíssimo brisada, e em Vargem Pequena! Onde?!
De qualquer forma, lá fui eu algum dia da semana, de manhãzinha, dessa vez num dia de chuva, para outra entrevista de emprego. Dessa vez eu estava decidida a ser levada a sério e já tinha até treinado algumas respostas pras perguntas cretinas que a Travesti e companhia me fizeram na semana passada. Tu jura, né? Chegando lá não ia lembrar nem meu nome.
Primeiro que meu currículo tava encharcado quando consegui achar uma papelaria pra comprar uma daquelas pastinhas e pá e bola. Tudo lindo até então. Meu estomago revirou quando eu me toquei que não fazia idéia do nome do curso e muito menos de onde ele ficava naquele ‘shopping’. Fui pedir ajuda ao homem da cabine do ‘estacionamento’ (incrível como tudo em cidades pequenas parece versões pocket do que realmente existe na cidade grande, hmm) sobre onde ficava o tal curso de inglês, morrendo de medo de encontrar tipo uns três diferentes. Mas como já era de se esperar, só tinha um curso no lugar. Menos mal, certo?
Subi as escadas descobertas na chuva, sabendo que não seria dessa vez que eu reinaria soberana. Dei três voltas antes de achar a porra do curso e já entrei xingando dois caralhos consecutivos, logo de cara pro meu ex-futuro-chefe, chamando mais atenção do que eu realmente deveria. Já tinha umas três moças sentadas lá e comecei a minha pesquisa mental e silenciosa, sobre quais delas tinham cara de professora. “Hmm, só duas delas e esses dois caras aí nem rola, né? Dá pra derrubar as duas”, eu sussurrava mentalmente e já exibia meu sorriso falso, crente que era gente e que tava causando e com a vida ganha. Tinha até plano de saúde, mano! Não sei pra que outro, mas dá a impressão de que sou realmente importante para a empresa a ponto de zelarem pela minha saúde, né? Não iriam querer que a professorinha deles morresse de alguma gripe do frango ou coisa que o valha.


O homem-da-porta-que-ouviu-meus-caralhos entrou no curso (minúsculo, por sinal) depois de todos os candidatos se espremerem na (minúscula) sala de espera/secretaria/sala de aula. Chamou um a um, por ordem de chegada, para sua não menos minúscula sala e eu, como não sou boa, dei minha vez pra uns quatro (incrível como tem professores de inglês nesse estado!) e acabei tendo de entrar senão daria muito na cara a cagona que sou. Cambaleei no meu all star lavadinho pra parecer pessoa séria de família e acabei entoando um semi-tonado “Booom diiia!” que não pareceu levantar nem um pouco o humor do nerd-baixinho-de-óculos-redontos. Ele leu meu currículo (de uma só folha, e isso porque minha fonte não é nem um pouco pequena como o curso dele) e entoou uns vinte “hmms” enquanto maneava a cabeça, pensativo. Pediu para que eu assinasse e datasse a tal folha “Mas que dia é hoje mesmo?” e esperasse na outra sala. Ok. Tchau, fui.
Mas que porra de sala é essa?! As cadeiras não agüentavam nem metade da minha bunda e era tudo colorido demais, feliz demais para uma entrevista que estava prestes a me dar credibilidade de cidadã na sociedade. Bem digno de Jéssica mesmo. Esperei durante uns 40 minutos no meio de tanta gente velha reclamando da crise e resolvemos conversar sobre nossos empregos. Quando ouvi da boca de cada um que eram da área de vendas, caralho, sorri triunfante! O emprego e a dignidade são meus! Ahá! E não há quem tasque! Se eu já estava me achando a última professora do pacote quando tinha uns 5 potenciais concorrentes, quem dirá agora sem nenhum!
Foi quando a versão GG do Harry Potter adentrou a sala super-mega-hiper-colorida e anunciou, pouco delicadamente, que devíamos tipo assim resumir nossas pessoas em 10 minutos. Nosso estado civil, opção sexual, experiências de vida, se nossa casa era alugada ou própria, nosso time e religião deveriam caber nestes 10 minutos estipulados para evitar eventuais problemas. Uhum... Time? Oi?! Nem ter time eu tenho! Boba que não sou, me deixei ser a última só pelo prazer de poder deixar meu intestino se acalmar e eu não correr o risco de me borrar bem ali na frente daqueles quarentões. Depois de assistir entediada às histórias de vida de meus concorrentes serem interrompidas, levantei da minha cadeira amarelo-gema e fui pra frente de todos, batucando Toxic nas pernas. “Então, né? Meu nome é Jéssica Happatsch (incrível a quantidade de Marias, Silvas e Souzas que tinha ali), tenho 17 anos (a mais jovem já tinha idade pra usar botox), terminei meu segundo grau o ano passado, só tenho experiência em lecionar Inglês para crianças e...” Pararam boquiabertos e o climão reinou na sala. Agora era fato de que o emprego seria meu, eu definitivamente era a única a estar ali para dar aula de Inglês. Resumi minha vida em míseros 3 minutos e foi aí que a crise pairou sobre mim. Quem sou eu? Pra que diabos eu existo se minha existência cabe em três minutos (com tempo reservado para um gaguejo aqui e outro ali) e onde eu ia parar? Meu Deus, que merda. Sentei na cadeira amarelo-gema de novo e esperei que tudo voltasse a como estava antes, menos meu intestino, é claro.
Aí o gato do meu ex-futuro-chefe me chamou novamente para a sala dele. Resolvi aproveitar o silêncio de outra forma dessa vez, admirando os cartazes cheios de incentivo colados na parede cinza e gelada do cômodo não menos estreito que os outros que eu havia visto. Um bando de cartazes com imagens de gringos sorrindo e dizendo que Yes We Can! Tentavam dar um ar otimista para a sala deprimente do gordinho. Depois de um tempo fazendo outros “hmms” ele finalmente abriu a matraca.


-“Como vejo que não tem experiência na área de vendas, eu queria saber o que lhe interessou nessa vaga.”
Como assim? Desde quando eu preciso experiência em vendas pra ensinar uma língua? Será que vender benflogin pros emos da escola conta? Me ajeitei na cadeira, essa era dura e gelada pra porra.
-“Eu amo lecionar Inglês e amo crianças! E adorei o clima desse ambiente de trabalho e adoraria...”
-“Você sabe para o que é a vaga?”
-“Para professores?” – hesitei, mesmo achando aquela afirmação a mais obvia do mundo no momento, depois da que beber antes de uma entrevista de emprego não é nem um pouco aceitável.
-“Mas a vaga para professores já foi preenchida em Novembro. Esta é para assistente de vendas!”
-“Como assim?”
-“Sim, para assistente de vendas. Amanhã teremos o treinamento. Há algum interesse de sua parte nessa área?”
Parei. Depois dessa eu parei. Sorri e disse que era um erro de alguém porque tava no anúncio na porra do jornal de que a vaga era pra professores e não, eu não quero nenhum treinamento não, cara. Não sei nem persuadir alguém a aceitar minha companhia sóbria numa balada, quanto mais alguém a abrir uma filial dum curso de inglês que eu ainda nem lembro o nome. Resmunguei mais um bocado e me levantei da cadeira gelada dele, e saí batendo cabelo. Sociedade que se foda, há muito mais o que fazer do que ficar na cidadezinha dele entulhando papéis.
Desci as escadas descobertas na chuva, rindo do meu desespero por 600 reais mensais e um titulo um pouquinho maior de importância do que ex-estudante. Resolvi que me apresentaria como modelo ou atriz daqui pra frente. Qualquer coisa soaria melhor do que... “Eu”. Ao menos consegui uma Erdinger pelo preço de uma Heineken e a certeza de não ligar para anúncio de empregos num dia de ressaca.

Ps.: Onde essas pessoas bizarras acham meu Orkut? Fico de cara, pqp!