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quinta-feira, 31 de março de 2011


Mas eu nunca te odiei, não. Entre um cigarro ou outro que acendi e gastei até o filtro, queimando os lábios todos vermelhos e sangrados de tão mordidos, não; eu nunca te odiei.
Nem quando berrei que o fazia, nem quando demonstrei que o sentia. Esse ódio, sabes? Essa coisa ruim, essa fome de ver o outro sentindo a dor que você tanto sente, essa fome que vai te corroendo e te comendo todo por dentro como se fosse uma minhoquinha numa maçã. Isso eu nunca senti não, criança… não por ti. Eu não queria te ver em dor, aos prantos, sem conseguir comer ou comendo demais, bebendo por aí e caindo e imitando meus gestos e decisões ou copiando cegamente os meus passos. Eu nunca te quis mal, eu apenas me queria bem. E ainda o quero e acho que ainda não o tenho por que veja só, você sabe - e qualquer um sabe, isso é tão óbvio, por Deus! - eu sou viciada em sofrer. Amo sofrer. Amo uma TPM com comercial de margarina na TV, uma depressão, uma fossa numa manhã de Segunda Feira e uma briga numa tarde de Domingo. Gosto assim. Gosto de sentir e sentir tudo e sentir tanto até que não sinto mais nada e assim eu sou eu novamente. Mas, você sabe, ódio por ti eu nunca senti não.
Por que você foi; você foi embora e foi e fudeu com tudo mas isso é o normal. A vida é esse mar gigantesco e todo mundo e tudo não passa de uma onda; uma onda que vem e vai e algumas te rendem um caixote enquanto outras apenas te balançam toda cheia de ginga e ainda assim vai embora como todas as outras. Mas a culpa não é sua que eu siga a minha vida a bancar jacarés e ficar os perseguindo assim como uma criança geralmente quer um doce só por que tem querer pois assim todas as outras o fazem. E também nem é culpa sua que toda onda que passe por mim me deixe o quadril a dançar em seu ritmo por um bom tempo; um péssimo tempo, na verdade, um tempo até demais. Um tempo que o relógio não ajuda a passar.
Mas eu não te odeio, não mesmo. Ainda sou criança demais para conseguir sentir algo tão maior do que jamais serei e tão mais sujo do que jamais conseguirei segurar aqui, pelo menos não em relação a ti. Ódio é grande demais e assim como a Sininho eu não tenho espaço em mim para algo do tipo, não tem nenhuma vaga pra essa merda em mim não. Eu só quero me amar também e isso não deveria ser difícil. Só quero ver um sorriso na minha cara que dure mais que um dia ou mais que um ensaio e aquela certeza de que eu vou amar de novo, vou sim, e vou ficar tão feliz que não vou lembrar que um dia já quis morrer por causa disso. Por que a vida é assim, né? Um dia você quer amor, noutro você tem e passa o resto do calendário desejando voltar no tempo, àquele tempo em que você não tinha amor e queria mais que tudo ter… só por que não sabia que era assim.
Vai ver o amor é mesmo uma maldição e, assim como a Sininho, eu sou pequena demais para algo tão grande. Então eu vou ficar aqui e ali e fugir pelas tangentes e voltar pela esquerda, direita, por cima e por baixo de você. Vou ficar levitando por aí, entre o aqui e o ti, que é o que dá. Eu só quero ser feliz.
Muitos reis, muitos reis mas nenhum de ouro. Nenhuma dama e aquele valete vermelho ou abóbora, nunca soube muito bem, com aquele balãozinho ali embaixo. Era muito amada e não havia nenhuma outra dama entre elas. Mas também nenhum obstáculo seria vencido. 

Em suma, apenas a certeza do óbvio, quase que uma desnutrição do incerto. Nada de ouro no meio de uma bando de merda; nada alem de suas mentiras em penas brilhantes e pássaros. E sabe-se Deus mais o que diabos.

terça-feira, 15 de março de 2011

aqui, agora e de verdade.

Aqui.
Apenas o eu, fantasiado de Morfeu.
Nada além do véu, do suor e do breu.
Apenas o eu, a única coisa que me pertenceu.
A coisa única que sempre foi nunca.
Única
Sempre
Nunca
Coisa apenas.

Agora.
Apenas o eu, como havia de sempre ser.
Não amanhã ou depois, apenas deitar-se e nada ver.
Montar e ser montada, tudo sentir e nada viver, nenhuma gota reter.
Apenas o eu, apenas ser.
O agora, não o ontem; não o amanhã que não pode chegar.
Nas lembranças, criança, apenas deitar a cabeça quando chapada conseguir voltar
Somente, única e apenas e tão docemente, somente se for para não sonhar.
Se enganar
Montar
Cair
Deixar a guarda alcançar
Apenas o agora
única e apenas e tão docemente
Somente ganhar.

E de verdade.
Apenas o eu, sempre tão teu.
Respira fundo, boneca, deixa ir.
Let the good air out, let the trip in.
Deixa sangrar, pequena, mas let it be.
E dividida entre Beatles e Rolling Stones
entre o bem e o mal, o que se quer e o que se pode
Seja apenas você, apenas o que se pode vender
Seja ele, se apague, vire ela.
Vista a capa que mais lhe convir
Mas não deixe nunca, ninguém
Não deixe ninguém nunca descobrir.

a arte de ter razão.

Sou expert na arte de convencer pessoas, mesmo que quase nunca eu tenha razão. Não sei se são meus olhos, algum gingue na expressão corporal ou só a minha habilidade de falar as coisas certas na hora errada mesmo. Não sei... não faço idéia de quem eu puxei isso, talvez do meu bisavô estelionatário ou do nazista, mas sei que esse dom sempre me levou muito mais longe do que qualquer verdade que eu tenha tentado seguir. Mas, como tudo nesse mundo, algumas vezes ele também falha e até comigo mesma. Me encaro no espelho e, mesmo que esteja vendo três de mim através de um caleidoscópio, me encaro nos olhos e repito o quê devo até achar que me convenci. E então respiro fundo e saio para viver. Mas não, alguma hora tudo falha. E eu também.

Porém, se existe algo nesse mundo que eu odeie com todas as minhas tripas é gente indecisa; exatamente por eu ser a pessoa mais indecisa da paróquia e saber o quanto isso pode ser irritante. O quê eu quero agora não é a mesma coisa que eu vou almejar meia hora depois, mas tudo tem um mojito - eu me engano, me deixo levar, mas meu subconsciente sempre aciona o alarme e me avisa de que é a hora de pular pra fora do barco por que não tem Jack algum pra congelar mar afora só para deixar o piano todo para mim. É. Não tem um Leonardo DiCaprio morrendo por mim não.

Mas minha vida tem de tudo para ser um grande filme hollywoodiano - as tramas, os dramas, as personagens filhas da puta, tudo e ainda mais um pouco. Acho que nem Maria do Bairro sofreu tanto quanto eu ou A Usurpadora já fudeu tanta gente quanto quem vos fala no momento. Para me barrar, nem Paola. Talvez depois de uns Josés Cuervos, mas ainda assim? É difícil me topar. E apesar de toda a minha fama de que não valho o chão em que piso ou o pão integral que como, ainda assim tem gente que acha que pode me fazer de boba e sair lucrando com isso, ali pelo cantinho, meio que pela esquerda, sem saber que a vida é na verdade um boomerang e toda merda que vai, volta. Se você cospe pro alto de certo vai voltar na sua testa, não importa o quão sagaz você se considere ser. Ninguém consegue escapar das próprias armadilhas, é a vida; mas como diria Caio, é doce. A vida é um doce e ou você cai de boca nela sem ligar para as calorias ou os efeito retardatários ou vai passar o resto de seus dias ali, sentada, só assistindo a banda passar. E, venhamos e convenhamos, nada dói mais do que assistir espetáculo alheio enquanto o seu não sai das coxias - ou sequer do papel.

Mas tudo isso não tem me entristecido não, não mesmo. Enquanto algumas pessoas não engolirem o seu orgulho e aceitarem que são tão merdas quanto sempre fui e a stripper da esquina há de ser, enquanto isso não me doerei em nada, não me doarei em mais nada. Já não vejo mais lucro e estou me esgotando de razões para continuar apostando nessa Bolsa que está caindo mais rápido que a do Japão - nosso balanço está em queda livre. Não há mais motivos; o único que realmente importava, o alguém quem realmente importava, não está mais ali. E nem em lugar algum. Foi diluído por algum álcool barato, algumas outras moças, não sei. Mas tão diluído fora até virar eu. E eu por mais eu, sou mais eu mesma, entendes? Minha liberdade de ser quem eu quiser depois que o Sol baixar, me apresentar com o nome que mais me convir e, principalmente, tomar decisões que eu assumirei no dia seguinte por que isso sim é maturidade. Não fugir para o alto do pedestal e abrir os braços lá em cima, inflando o peito de ar e orgulho, afirmando, como sempre, não cometer erros, não enxergar seus erros, não perceber que também pode cometê-los e que o faz com mais frequência do que uma criança de sete anos. Isso não é ser maduro, definido na vida e muito menos divertido. Sim, maturidade é enfiar o pé na jaca, tomar o que não devia, ter todas as experiências que a vida pode lhe proporcionar e assumir tudo, desde os erros até os acertos mais adoráveis ou frutíferos, assumir tudo no dia seguinte e tentar aprender o máximo com isso. É viver o aqui, o agora e o de verdade. Isso sim é crescer, não o quê você está fazendo.

O quê você está fazendo é fugir, é tentar segurar com suas mãos trêmulas a alegria que nunca vai se tornar felicidade. 'Cause I've been there, I've done that. Enquanto o Sol não sobe tudo é lindo e nada dói, mas no dia seguinte a batalha continua. A diluição também. E de gole em gole, de shot em shot, você vai se transformando em alguém que nada vale e menos do que lixo é. Pois lixo ainda se recicla, agora um você destruído? Só jogando tudo fora e recomeçando do zero.

no.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Minha vida tem dado voltas e voltas e umas outras reviravoltas ainda mais loucas. É mãe descobrindo o que já havia descoberto três vezes em sua vida, é amor acabando num fim sem fim, coisas que seriam eternas saindo pela tangente por que agora a santa resolveu virar vadia. Não sou obrigada, não posso com isso. Minha vontade é de enfiar uma granada no rabo de cada um e esperar que o Bruno Mars pegue-a por eles? Ou não? Não sei.

Mas já que um dos meus zilhares de signos - pois sou bem dessas que acreditam tanto em Zodíaco que sabem muito bem que suas luas e águas e linhas do destino são todas guiadas por mais de um signo. E sempre pelos mais filhos da puta, é claro. De qualquer forma, já que um dos meus signos diz que amo mudanças, resolvi que abraçaria todas e ainda causaria mais algumas. Larguei a faculdade de Jornalismo. Quis sumir do mundo, mas só consegui sumir do de alguns; quer dizer... Comecei teatro, me encontrei na vida. Dei um tapa na cara de quem eu juro que é o amor da minha vida só para depois de menos de uma semana eu encontrar a criatura bêbada e toda caída pelo chão da boate enquanto eu, que achei que experimentar um doce era a boa, tava era muito feliz e não vendo problema algum em coisa nenhuma e bem... nos pegamos.

Agora você vem e me pergunta: o que mudou? Sempre menti na faculdade e em todos os trabalhos à ela relacionados. Sempre fui uma grande atriz aqui em casa e pelas esquinas da vida também. Agora só vou me profissionalizar, não? Não mesmo. É mais difícil do que eu esperava e, novidade, eu sou uma merda. Resultado? Gamei mais ainda. É mesmo a paixão da minha vida. Peguei a Facha, a fancha e a porra toda e joguei tudo pro ar; era hora de ser feliz.

Mas mudar? O que mudou? A Facha continua a mesma coisa e a fancha quem sempre foi de verdade - uma versão mais aloprada de mim. Mas a grande graça nisso é que ela odeia esse "eu" e veja só, agora ela é ele e elevado ao cubo, no mínimo. Como isso me afeta? Em muitas, muitas partes. Estou lá querendo curtir minha viagem e minha boate e a porra da minha vida e o resultado? Tô caindo na dela de novo. Dia seguinte? Depois de me encontrar jogada no chão do meu quarto depois de ter pegado carona - ou um táxi, ainda não sei - e ter passado por uma padaria e não saber como acordei com dinheiro a mais, fui beber. Por que ressaca ou bad trip você cura assim: bebendo mais. Qualquer outro problema também. Pois então. Resolvi ligar para ela que agora era minha amiga de balada? Ligar e resolver e dizer que não, sua louca, sua lunática, não estou puta. Eu te conheço, não estou puta pois já esperava algo do tipo. Então oh... relaxa e goza, só não empata mais outras fodas da sua amiguinha. E olha ela, quem nunca gostou de beber, toda com voz de ressaca e falando que ia era beber mais por que queria que o planeta bem que se explodisse. Pois bem. Que se explodisse enquanto eu pegava o elevador e ia atrás de minha amada cervejinha de Domingo.

Conversa vai, conversa vem... quem liga? E bêbada? Ela. Fala várias coisas aleatórias, nega todas as merdas que falou na madrugada anterior e do nada me pergunta onde estou e o quê estou fazendo. Tensão. Também estava vindo para essas bandas. Tensão aumenta; todos corre. Ok, levantei pois resolvemos que íamos era beber em outro lugar. Tudo lindo, tudo numa nice. Bati um papo maroto com um engraxate que me chamou para o Cabaret do Alex e foi aí que eu pensei que mais bizarro não ficava - mentira. Vadia me liga dizendo que está perdida em Ipanema e pedindo ajuda. Mas hein? Em que parte do Livro da Vida está escrito que eu sou obrigada, hein? Quer dizer... me aponta que eu apago, sério.

Tudo bem, pior não fica mesmo. Fui para casa. Quem entra no MSN? Sim, sou repetitiva e por isso você adivinhou - ela. Continua insistindo de que não lembra de nada e quando fui tentar ajudar a sua memória a dar um refresh nas coisas mais leves, o quê ela fez? Lançou uma desculpa, umas farpinhas aqui e ali e depois ainda afirmou que era para fingir que nada havia acontecido pois agora que as brigas passaram poderiam sair para beber e nos divertir.

Caguei. Solenemente. Quase que enquanto andava e olha que tenho prisão de ventre. Mas como alegria de pobre, preta e gay dura pouco... ela me manda SMS na manhã seguinte, ainda como se nada, nunca, ever tivesse sequer cogitado a possibilidade de acontecer. Sou obrigada? Alguém me manda uma luz?

Não sei. Tudo que sei é que não dá para poetizar esse momento da minha vida. Mas tudo bem, alguma hora eu volto e tento ser mais profunda nisso tudo e fingir que aconteceu com outra pessoa por que é, gosto assim, viu? Quando não trepam e nem saem de cima. Sejamos todos iôiôs uns dos outros por que a vida foi feita para viver, certo?

sexta-feira, 11 de março de 2011

enfim... fim.

não peço mais desculpas, não quero mais tempo perdido
o barulho humilha, mas com o silêncio eu tenho aprendido
terremotos e ondas engolindo o outro lado do mundo, não
a terra também treme aqui, o rancor assume o posto
aquele ponto que era só meu e teu, quase nosso e que se foi

não quero mais mentir, não tenho mais como esconder
apagar e deixar o breu vir, não sei, não quero mais ser
e shots e drinks e outros corpos podem me apagar, sim
quero mais é viver, eu já errei, eu sei, tudo pode então vir
e ir, assim como você. me apague também, minha armadura

nunca sonhei em te ver assim tão dura, mas estou orgulhosa.
não quero rimas, não quero poesia. apenas estou a dizer o que sinto.
ainda te amo, sempre te amarei, mas haverá de vir outros
e meu corpo sempre tão revisitado, ainda terá as suas marcas
mas você? você não. você nunca virá revisitá-las...

domingo, 23 de janeiro de 2011

Nas frestas da hora exata

Dizem que sempre sentimos a morte por perto, o que de certa forma realmente faz alguma lógica. Não acredito que ele nunca tenha sentido antes do choque, da notícia e das respostas, assim como não acredito que não sejam todos nós que sinta a maldita por perto a cada novo dia que abrimos os olhos; a cada novo dia que temos a menos na contagem final. Ela está sempre ali e ele sempre soube, procurou; espalhava aos sete ventos e mares e tantos mais que queria era apressar seu encontro e que o resto pudesse ir para o inferno. Eu, apesar da tempestade que sou, sempre quieto fiquei, apenas assistindo, sorrindo, negando e perdoando.

E assim, sempre meio que a perseguindo, meio que lá no fundo querendo fugir dela e sim procurando por só um pouquinho de atenção ou um abraço ou um agrado qualquer, chegou o dia. O dia em que ele, coitado, tão frágil e leve tal qual um anjo ou uma pena ou uma esperança qualquer, ele viu que poderia ir. Poderia ir e sem deixar muito por aqui; tristeza, saudade ou qualquer coceira dentro de um outro alguém. Mas para um, aquele um, esse um que é eu, pois veja bem que merda, ele queimaria um todo a cada cigarro fumado no desespero, a cada dose empurrada para dentro apenas para ser jogada para fora na manhã por vir. Frágil feito a esperança de que algo assim tão deles pudesse, quem sabe, um dia realmente vir a dar certo para sempre e ser como nos filmes que assistiam juntos, nas canções que deixavam rolar altas entre um cigarro e uma trepada e um e outra; só sair daquelas expectativas tão adoradas, ele soube. Ele sentia, certeza. Até mais nada daquilo e nem dele deixar de ser.

Tão parado e calmo, quieto como nunca e ainda mais leve, meu Deus, por dias ele ficou. Silencioso, a respiração falha e pesada, cada fôlego como um novo esforço maior que as tragadas antes tão sagradas, assim não acredito que ele não tenha sentido ela por perto. Mesmo calado, adormecido ou quase ido, não acredito que não tenha pensado a todo segundo "Pois é, meu Deus, fudeu. Agora eu vou". Ele podia não falar, mas certeza eu tinha de que ouvia. E no silêncio branco preenchendo e sobrevoando aquele quarto gelado, eu bem sabia que em sua cabeça neurônios mastigavam a notícia, o desfecho já escrito com quase a data e local decididos. Ele sabia que iria, ele sabia.

Mas ele sempre procurou por isso, não é o que diziam? Não é o que ele mesmo dizia? As noites vividas, os zilhares de maços e corpos e bagulhos e pintos e vaginas e a porra toda que viria no meio, por cima, por trás, entre dedos ou línguas e entranhas. Amores, desamores, ressacas, bad trips, corações partidos e remendados, pregas perdidas, enfim. Tudo aquilo, seu mundo. Tudo aquilo só não mais ido que ele.

Ele, esse anjo tão frágil e pequeno e translúcido; mal compreendido, quase não amado e tão idolatrado. Ele, esse ele, meu Deus, meu tudo e o tudo de todos e o nada de mais alguns e tanta coisa e ainda assim coisa alguma. Ele, meu Deus, e ele? E se ele tiver indo? E nunca mais eu ouvi-lo vindo, nunca mais existir um voltando? Um telefone tocando e aquela voz tão gostosa e nervosa, tremida e rouca pelos tantos cigarros que agora eu me pergunto, "será que ele ainda os terá?". Meu anjo não muito organizado e domado ou bem montado seria sem aqueles vinte. E muito menos com capa, com plástico separando dois corpos para impedir o livre trânsito das almas, não é o que ele dizia? E sem tudo, sem festa, sem eira nem beira? Santo que não do pau oco? E agora? Não haveria mais aquela voz me cantando "vem logo, meu caro, vem que já estou a te esperar com café e braços." E lábios, e dores, cicatrizes e segredos adoecidos, tudo junto. O corpo inteiro e todas as ziguiziras. E se mais nada disso eu tivesse?

Mas a morte, essa companheira constante, a única certeza que tenho na vida, aquela que anda de mãos dadas com a maior das incertezas de quatro letras, pois é, ela resolveu ir passear. E me dar um pouco mais do meu anjo, agora ainda mais frágil e translúcido mas sempre tão lindo. Meu anjo em breve estaria vindo, pois é. Daquela voz e braços e tudo o mais eu ainda teria... até não mais o ter.

E ele, aquele que eu julgava conhecer do avesso mais que conheço meus filmes e músicas favoritos, ele já não era mais aquilo. Já não era mais nada. Era uma folha em branco, molhada, prestes a se desmanchar. E eu, meu Deus, sempre tão afoito e afobado e grosseiro, eu o rasgaria em um simples abraço. Eu e meu cheiro de cigarro, da vida que ainda levava, agora ainda mais desesperada, eu com meu cheiro e essência de eu. Eu o rasgaria, meu Deus.

Distância, distância. Mas eu deveria mostrar apoio, não é mesmo? Parecia tudo agora uma corrida contra o tempo; uma corrida injusta, não dava para trapacear com ele assim tão aos trapos. Era tempo de correr e mostrar o que era amor, "mas amor não, é proibido. Você não precisa selar teu suicídio assim, rapaz", mas amor sim. Mais amor sim.

E então o vi, ali, tão incerto e perdido de si mesmo quanto eu e minhas lembranças poderíamos estar. Sentamos os dois, cada um em sem mundinho, em seu próprio espaço. Sentamos os dois e o ouvi, cada medo novo, cada dúvida e as inseguranças e tudo aquilo que o mantinham perfeito, ainda que todo novo e em branco, ainda que tão outro. Mas aqueles olhos não mudavam, nem a voz já não mais tão rouca pela falta de nicotina que tanto o desesperava. Ouvi-o e permanecemos ali, quietos e barulhentos, certos da incerteza de que seria cada novo passo. E eu permaneceria ali a cada droga pesada e carne que se enfraquecesse, mesmo que o nunca mais viesse para o amor. E tentou vir.

Nunca mais as peraltices, nunca mais os pênaltis a pagar, os cigarros a fumar, as noites a trepar. Nunca mais, nunca mais. Nunca mais o meu amor de pecador a sujar suas novas asas de anjo, nunca mais. Mas eu permaneceria ali, meus olhos cansados mereciam assistir àquele milagre. Das cinzas nunca mais jogadas despretenciosamente da ponta de uma bala, dali renasceria aquele; aquele que seria sempre meu, o meu aquele. Sem capas, sem distâncias, sem nojos ou receios. Meu, para todo o sempre... meu.

E os dias vieram e as mudanças passaram e as inseguranças novamente vestiram outras vestes e os dias se foram e eu permaneci ali. Eu, com a minha voz rouca de nicotina, apenas para ligar para ele e implorar "anda, meu anjo, vem logo. Vem logo que eu 'tô te esperando e cansado de rezar. Anda, se apressa, meu caro. Vem que a nossa hora vai passar e é a minha que está a chegar."

(inspirado livre e loucamente nas minhas viagens sobre a descoberta de CF de sua doença e o anjo que ele deve ter tido, aquele moreno de quem ele tanto falou Depois de agosto).

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

"supere isso, e se não puder superar, supere o vício de falar a respeito"

Suas marcas, todas as tantas, já sumiram da minha pele e eu, sempre tão supersticiosa, já estou a considerar isso um sinal. Um sinal de que, vai saber Deus, talvez todas as minhas incertezas eram certas e nunca vai dar para ser.
E eu estaria tranquila e talvez até orgulhosa de mim mesma se eu tivesse esgotado toda a minha fome, toda a minha vontade de realmente tentar e escapar pela tangente e encontrar um novo jeito de continuar. Mas não, eu 'tô aqui com o tanque cheio; parada num beco sem saída.
E eu poderia sempre fazer ou dar um balão, nunca fui muito boa com ditados e tudo o mais e você sabe disso, falo tudo sempre ao contrário, mas eu poderia simplesmente contornar, dar uma meia volta e voltar. Mas voltar para onde? Não conheço mais nenhum outro lar que não seja você.
Por isso eu tento, experimento tantos outros, me mastigo só por que assim eu me castigo sem nunca deixar marcas e sem ninguém nunca poder notar. Mas de nada me adianta se a cada mordida de mim, provo cada vez um novo sabor teu e continuo na esperança de um dia enjoar.
E eu queria dar as costas e meter o pé, mas sei que seria o mesmo que correr para os únicos braços em que me encaixo como deveria, como sempre precisei. Mas isso é tão errado, tão errado contigo e com tudo que você merece e... legal, sou mesmo hipócrita e egoísta e encasquetada e tudo o mais que quiserem vir me falar outra vez. Mas vai ficar tudo bem, sabe por quê?

Você vai arranjar algo maior, melhor, mais fácil ou só mais bonito. Por que é o que você merece, o que carrega contigo... mentira, não vai não. Não vai ser assim. Você terá muitos outros e muitos outros mais fáceis mas nunca terá um maior, mais bonito ou verdadeiro. Você nunca terá um outro alguém assim tão de inteiro. Não digo isso como quem roga uma praga por que, muito pelo contrário, quero apenas o melhor para você - e talvez seja melhor, quem sabe, exatamente por ser mais fácil. Só digo pois é o que eu sei; essas coisas não são saudáveis, entendes? Se entregar assim, querer se abrir todo e dar de tudo. Pegar o fígado que aguenta meu combustível e largar na tua mão cagando e andando com o que você vai fazer com ele. Isso de pensar tanto nas consequências e nos prós e nos contras e não levar nenhum deles em conta. Não é qualquer um que se dispõe a entrar nessa, criança. Gente boa da cabeça não topa pular do alto de um prédio simplesmente por fazê-lo, por sentir que quer ou até mesmo só se deixar querer. Gente certa das coisas não faz isso não.
Então... é por isso que te digo que não terás outros desses que vai fazer do coração tripas e delas arrancar uma canção. E só digo mesmo porque, lá no fundo, sei que a nossa vai se desmanchar em silêncio tantas frases antes. E o que mais me dói é saber que, pra mim, vai ter sempre aquela fermata ali, aquela pausa com um fim incerto e são esses três pontinhos que, de fôlego em fôlego, me arrancam todos.

Mas se isso te comove ou, quem sabe, me consola, ela não sai da minha cabeça e por incrível que pareça, é a única canção que estou disposta a cantarolar. Ever.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

abrir o seu mundo, acolher quem fora expulso
tal qual um filho pródigo ou cadela vagabunda
derrubar os seus muros, fazer caminho aos murros
guiar por entre bibelôs antigos um novo preferido

baixar a sua guarda, deixar ir e vir e entender e pedir
e medir e ter e perder quem sabe sofrer e até partir
chamar para dentro, para um café um abraço ou um
afago um cafuné até um colo ou o que Deus quiser

oferecer o que era só seu, abrir um novo crediário
acreditar no nome sujo na praça, falado e manchado
despedir os guardas e montar um abrigo no gelo...
quando a geada é si mesmo.

e chamar e pedir de volta e sonhar e esperar e então
colecionar expectativas tomar tudo pelas mãos, não.
perder o controle temperar a razão admirar a paixão
administrar a tensão colecionar o tesão, oferecer a mão

pra que? pra que?
pra assistir o que todo mundo sempre avisou
pra aceitar o que sempre esteve ali em neon
pra aprender que é se dando que se é fudido
tudo por que é acreditando que se vira bandido.
i watch the sky changing colors and my skin burns
the sand, the scratches and the bites - they all become one
i watch you changing colors and my bones, they burn
it's you shifting souls again, wearing different faces again

but everything will dissolve into a magnificent paint
or even fireworks as they explode over the covers
a fever melts your disguises as i hold you closer
your sweet little lies, lullabies, implode my walls

i watch the days run over and my fingers ache
another chance i wasted over a drunk passing dog
i watch you run cheap and something almost hurts
it's you writing better lullabies again, new lies in vain

but everything will dissolve into a thin brief void
or even something even saints would avoid
a fever melts my will as you remain farther
my sweet little will, over, implodes my hopes
a shot for every lie you told
for the times i fucked it over
let's just have a toast, a toast

a dance for every feeling hurt
clap your hands, now it's over
let's just have a toast, a toast.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

merda, merda, merda, merda...

Eu deveria ser proibida de querer pessoas. Assim que minha mente resolvesse que eu havia encontrado um novo amor ou uma obsessão, alguém travestido de papai noel apareceria e me carregaria pelos cabelos para a cadeira elétrica. E o tronco, a fogueira, injeção letal, serra elétrica... a porra toda. Chumbinho também serve, de preferência misturado num risoto de camarão ao molho de pinga. Quero morte na certa.

Cada vez que eu pensasse em me deixar sorrir revivendo palavras, cheiros, qualquer coisa... alguém viria e me atingiria com um hadouken. É sério. Pensei em amar? Trocarei logo por trabalhar, me exercitar, andar... Qualquer verbo que eu pudesse conjulgar sem envolver a bagunça que carrego por dentro. Na mente? Somento evolução, solamente essa merda.

É só que eu me fodo tanto - e fodo tanto com tudo - que estou até pensando em começar a oferecer workshops sobre o assunto: Aprenda Com Jéssica Happatsch Em 24 Horas Como Seguir Se Fudendo a Vida Toda. It's quite a gift, mate. Woody Allen adoraria me conhecer e tomar as escolhas dessa minha vida como inspiração.

Mas o ano só está começando, certo? Estamos na primeira semana útil e se à meia noite e um eu berrei foda-se e não fiz plano algum, penso foda-se agora e monto uma lista para cumprir até aquele dia 31.

O que é meu eu dou para quem eu quiser, seja a vagina ou o coração. Vou ter meu próprio imposto e pagar e parar de procurar por uma mão. Vou seguir forever alone together with my pussy por essa vida e se eu quiser gemer alto, que eu não deixe me calarem com a razão.

Esse ano serei uma puta de respeito e satisfarei meus próprios desejos, seja com o amor da minha vida, o namorado da amiguinha ou a puta amiga de profissão me esperando ali na esquina.

pra falar de saudade

Mas isso não é saudade
Não o é pois não o permito ser
Não é a falta, o vazio ou a insanidade
Não é meu sendo assim de tantos outros seres

Isso não é amor, não é artigo
Não é verbo que de algum modo conjugo
Não tem proposição sem um conectivo
Não há espectativas que se monte sozinho

Mas isso não é saudade
E o que não existe não pode fazer falta
Não é fome, então vai passar, é só vontade
Mas isso não pode ser saudade

O efeito passa e sobra a sobriedade
O canal já se alargou para a tal da liberdade
E eu quero chorar, quero provar da minha própria maldade
Mas não consigo preencher o que não é saudade de verdade.

depois do eu te amo

Certas coisas na vida passam voando. São sempre as boas, é claro. E na maioria das vezes, são dessas que não lembramos. Elas quase que marcam e tudo o mais, só não pesam em ti. São quase que de tinta lavável; bastou uma tempestade de lágrimas ou murros secos em portas e pronto! Lá se foram elas outra vez.
Não tenho nada contra esses momentos felizes, não mesmo. Acho até que de tanto imaginar, protagonizar filmes dentro desse molde em minha cabeça, pode ser que eu goste de viver alguns. É só que eles espetam demais depois de lavados. E espetam muito actually.

Você logo esquece do gosto e o espaço que por tão pouco tempo ocuparam permanece ali - vazio, rangendo e intacto. Um momento feliz vivido é um momento perdido e não há nada, nem uma felicidade igual ou maior, que possa substituir aquela porra. Aí você toma aquele vazio como seu, né? Tenta relembrar, montar tudo que aconteceu em seu devido lugar. A imaginação se põe a trabalhar e rescreeve o roteiro todo torto, sua esquizofrenia e solidão pintando as arestas como você realmente queria que fossem. Mas não são.

Certas coisas na vida não duram e momentos felizes não deixam cicatrizes. O dia seguinte carrega o peso de não conseguir ser tão sublime quanto o agora. E, uns dias depois, você nem sequer se recorda do cheiro, a nicotina e o estresse recheando as fatias que já não são mais suas.
E livros, filmes, boa música ou poesia; nada disso irá te salvar. Você pode se esconder em outros corpos e esperar que aquele peso morto todo cheio de vida te bata à porta novamente. E então voará quase tão sublime quanto o antes. Mas no fundo você sabe que não, nada do que vier depois terá o mesmo sabor. O paladar já provou, se acalmou, se acostumou; nada mais é tão novo, não existem mais outros cantos a se descobrir.

Depois do eu te amo, nada mais é melhor do que uma noite de insônia ou café resquentado. Nada mais ferve ou queima. Depois do eu te amo só resta a esquina a dobrar, o telefone a apagar e a busca a continuar.