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quinta-feira, 31 de março de 2011


Mas eu nunca te odiei, não. Entre um cigarro ou outro que acendi e gastei até o filtro, queimando os lábios todos vermelhos e sangrados de tão mordidos, não; eu nunca te odiei.
Nem quando berrei que o fazia, nem quando demonstrei que o sentia. Esse ódio, sabes? Essa coisa ruim, essa fome de ver o outro sentindo a dor que você tanto sente, essa fome que vai te corroendo e te comendo todo por dentro como se fosse uma minhoquinha numa maçã. Isso eu nunca senti não, criança… não por ti. Eu não queria te ver em dor, aos prantos, sem conseguir comer ou comendo demais, bebendo por aí e caindo e imitando meus gestos e decisões ou copiando cegamente os meus passos. Eu nunca te quis mal, eu apenas me queria bem. E ainda o quero e acho que ainda não o tenho por que veja só, você sabe - e qualquer um sabe, isso é tão óbvio, por Deus! - eu sou viciada em sofrer. Amo sofrer. Amo uma TPM com comercial de margarina na TV, uma depressão, uma fossa numa manhã de Segunda Feira e uma briga numa tarde de Domingo. Gosto assim. Gosto de sentir e sentir tudo e sentir tanto até que não sinto mais nada e assim eu sou eu novamente. Mas, você sabe, ódio por ti eu nunca senti não.
Por que você foi; você foi embora e foi e fudeu com tudo mas isso é o normal. A vida é esse mar gigantesco e todo mundo e tudo não passa de uma onda; uma onda que vem e vai e algumas te rendem um caixote enquanto outras apenas te balançam toda cheia de ginga e ainda assim vai embora como todas as outras. Mas a culpa não é sua que eu siga a minha vida a bancar jacarés e ficar os perseguindo assim como uma criança geralmente quer um doce só por que tem querer pois assim todas as outras o fazem. E também nem é culpa sua que toda onda que passe por mim me deixe o quadril a dançar em seu ritmo por um bom tempo; um péssimo tempo, na verdade, um tempo até demais. Um tempo que o relógio não ajuda a passar.
Mas eu não te odeio, não mesmo. Ainda sou criança demais para conseguir sentir algo tão maior do que jamais serei e tão mais sujo do que jamais conseguirei segurar aqui, pelo menos não em relação a ti. Ódio é grande demais e assim como a Sininho eu não tenho espaço em mim para algo do tipo, não tem nenhuma vaga pra essa merda em mim não. Eu só quero me amar também e isso não deveria ser difícil. Só quero ver um sorriso na minha cara que dure mais que um dia ou mais que um ensaio e aquela certeza de que eu vou amar de novo, vou sim, e vou ficar tão feliz que não vou lembrar que um dia já quis morrer por causa disso. Por que a vida é assim, né? Um dia você quer amor, noutro você tem e passa o resto do calendário desejando voltar no tempo, àquele tempo em que você não tinha amor e queria mais que tudo ter… só por que não sabia que era assim.
Vai ver o amor é mesmo uma maldição e, assim como a Sininho, eu sou pequena demais para algo tão grande. Então eu vou ficar aqui e ali e fugir pelas tangentes e voltar pela esquerda, direita, por cima e por baixo de você. Vou ficar levitando por aí, entre o aqui e o ti, que é o que dá. Eu só quero ser feliz.