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terça-feira, 6 de abril de 2010

nothing gets crossed out

Decidi que hoje era dia de escrever.
Acordei sozinha, atrasada, entupida. O mundo lá fora se afogava, parado, e era chuva que não acabava mais, com as nuvens tapando o quadrado de visão da minha janela que eu costumo conhecer. Meus pais e irmã reunidos na sala, atentos à voz irritante da âncora do Globo News, apreensivos com a porrada de água que atingia o Rio de Janeiro. “Dia de escrever”, pensei.
Já faz um certo tempo que não venho aqui, eu sei (o quê, aliás, apenas aumenta a minha desconfiança de que ninguém mais vem aqui, talvez a tanto tempo quanto eu) e essa manhã de aspecto cinzento e clima nostálgico me deu saudade desse cantinho. Então, como já disse, era dia de escrever.
Mas agora já nem é mais manhã e acabei de deitar na cama com o laptop servindo de cobertor, esquentando minhas banhas. Quero escrever e sei sobre o quê, mas não encontro o caminho. Sei qual esquina dobrar, mas não sei onde diabos está o começo. Quero escrever algo que seja bom de ler, não só de cozinhar, entendes? Por que, você sabe, escrevo para desabafar (terapia anda cara hoje em dia, só pra constar) e depois que termino – e o faço com um certo orgulho, deveria dizer – nem mesmo eu consigo sobreviver por um texto inteiro. Quero algo diferente. Senso, cadê?

Peguei uns livros, selecionei aquela playlist esperta no Grooveshark, acabei com o cigarro da minha avó enquanto a cobertura em tempo real do temporal rolava solta só para me distrair... enfim, inspiração viria na certa, certo? Errado. Mas estava tudo completo, tudo perfeito para garantir mais um texto seboso de drama, dúvidas e todos os temperos aos quais costumo recorrer quando tento criar alguma coisa. Mas algo não encaixava. Ficar ilhada no décimo primeiro andar, seca e com calor, enquanto o mundo lá fora se desmanchava em água suja não me basta mais... quero mudar de lugar.

Ou não. Mas procurei estágio, procurei cursos, resolvi que mudaria de profissão (já mudei de cabelo, de corpo, não há mais o que mudar por aqui...) e, no final das contas, a mesma necessidade, agora já gasta e antiga o suficiente para incomodar, continua aqui, corroendo que nem essa suposta fome selvagem que sempre me acompanha.
Não que eu me preocupe de verdade com o futuro, mas, mesmo assim, a sensação de vaguear por aí aleatoriamente já está machucando. Viver sem correntes, pregando o desapego, é como passar o dia andando pelo Saara com uma pedra numa sapatilha da Melissa. E uma alguns números maior que o seu pé, na verdade. Que entra e sai à toda hora, simplesmente não encaixa e, ainda assim, você não consegue tirar a maldita da pedra de lá. Logo você já está tendo um ataque de nervos, literalmente, e uma simples pedrinha no seu sapato da temporada toma a forma de seu limite, neon, piscando à sua frente. É.

Mas e conseguir produzir algo que possa se travestir de útil, onde entra nisso?

Então, já que a terapia continua cara e com essa chuva lá fora duvido que algum terapeuta esteja dando plantão, cá estou eu, roubando seu tempo num dia precioso para cariocas como esse. Não peço desculpas dessa vez porque eu realmente preciso disso. Só peço que volte. Seja feito filho pródigo, seja para me apedrejar (tenho uma vibe de Madalena muito louca, você já deve ter percebido) ou para simplesmente passar por aqui e confirmar que continuo viva; não importa, só volte. Odeio me sentir sozinha.