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sábado, 10 de outubro de 2009

i've bled and i bleed to please you...


E eles iriam se encontrar ocasionalmente pelas ruas de Botafogo, fingindo sorrisos, distribuindo afagos, compartilhando cigarros; e eles iriam tentar conversar, tentar doar uns minutos de seu dia para quem costumava lhe significar a vida.
Mas então as gargantas secariam, as palavras sumiriam; os motivos se desfariam no ar frio e parado daquele lugar supostamente tropical.
E mais dias se passariam; mais a distância aumentaria, os cheiros se apagariam, as memórias se esvaziariam e a vida seguiria.
Novos amigos viriam, amores inéditos estreariam nas novas noites de sextas e o gosto da pipoca não lhe pareceria mais tão insosso; é a vida.
Um comeria desesperadamente, o outro aprenderia a passar fome. Um estragaria seus pulmões, o outro aprenderia a beber sem procurar um motivo pra sorrir; é essa a vida?
E eles iriam trocar mensagens, desejos de boa sorte, notificações de saudade. E eles iriam tentar, tentar pelos velhos tempos; tentar porque é o que se resta a fazer quando não se quer ficar.
Mas então tudo seria em vão, quando aceitar e aprender a nadar na nova maré é tão mais difícil que cravar as unhas na areia movediça de outrem.
E mais noites nasceriam; menos a tristeza apareceria e o álcool diluiria tudo que fosse sólido demais para ficar.
Novos sonhos seriam sonhados, os antigos desperdiçados. Um pronto para ser preenchido enquanto o outro cai esgotado.

E então eles se encontrariam, nus e secos pelas ruas hoje tão molhadas de Botafogo, nem tentariam fingir sorrisos. Se abraçariam sem vontade, se tocariam sem afeto; é sempre assim que se acabam as parcerias? Combinariam sessões de filmes inteligentes, sair para beber, qualquer coisa que evitasse o diálogo, o confronto. E combinariam, e cobrariam, e combinariam novamente, sem nunca sair, até um deles desistir, e o outro acolher o melhor que estava por vir.
E antes da estação mudar, o abraço quente diário se transformou em letras na tela do seu computador; a dor abriu espaço para o esquecimento, logo você, com essa sua mente tão cheia de nada, a oficina perfeita pro diabo, logo você... me entende?



E antes que eu pudesse evitar, você já tinha ido. Antes mesmo de eu notar, disso eu já havia esquecido. Antes que eu pudesse me importar, já havíamos crescido; o outono chegou e eu até sei para onde você tem ido... apenas não quero te seguir pra lá.
E assim mais de nossos dias se passariam e na próxima tarde cinzenta em que virasse uma daquelas de nossas esquinas, eu te encontraria mas não pararia. Engolimos pólos opostos, ou iguais, não sei, nunca entendi de Física, mas sei que hoje o que você tem repele o que é meu e não adianta tentar, nada mais disso é seu.



E antes que eu pudesse me envergonhar disso, minha boca assume. Como um orgão que é mutilado e se regenera, com o tempo o espaço que era teu fora preenchido. E o que veio, foi. O que foi, em breve vai ser esquecido, pode sorrir, não está entre meus planos viver a te perseguir.
E seu cheiro está na fumaça de cada cigarro, seus passos soam pelo quarto, sua risada atrapalha cada momento de silêncio, mas... você, você não; você? Nunca. Você? Já passou. A você? Só resta o adeus.



Boa sorte, sentirei saudades...