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quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Você tem tudo e reclama como se não tivesse nada

Hoje é o aniversário de uma das pessoas mais importantes no meu mundo e eu não posso estar perto dela para fazer desse dia o melhor de todos e isso dói demais, mais do que eu queria que doesse. Hoje foi talvez o primeiro passo pro meu sonho, e eu não estou bem. Eu sinto que eu perdi meu chão há um certo tempo e que venho rastejando no de um outro alguém.
Eu tenho aprendido do modo mais difícil a não deixar meus dramas pessoais irem longe demais, mas hoje eu quero ser egoísta. Por ao menos um dia eu quero olhar para o meu próprio umbigo e vê-lo sangrando. Eu não quero continuar forçando um sorriso ou uma risada, forçando uma vida perfeita apenas para mostrar a todos que eu estou bem, bem demais comigo mesma quando o quê eu realmente quero é explodir. Explodir pra que voe merda por tudo quanto é canto. Pra que voe merda na cara de vocês, e dessa vez não vou limpar. Não vou voltar, pedir desculpa e limpar, tentando esquecer tudo.
Não sei confiar, não sei abrir a maldita porta que todos tanto falam que eu tranco. Eu não quero deixar ninguém entrar, por que eu sei que se entram, fazem bagunça no que eu tenho levado anos para arrumar. Mas no fundo eu sei que você não quer uma bagunça na sua vida. Então vá embora antes que eu me acostume com você por aqui e já não saiba mais como limpar toda essa sujeira da minha mente sem suas mãos.
Hoje foi estranho. Eu finalmente me vi sozinha, física e socialmente falando, outra vez mais. Eu vi a possibilidade de realmente andar por aí sem ter em quem se apoiar. E eu não vi nada de novo nisso. Nada que fosse realmente assustador e desconhecido. Era Jéssica como ela se conhecia anteriormente. Peguei meu livro (ótimo por sinal, um milagre) e meu mp5 e entrei no meu tão fudido eu. As vezes nem eu mesma tenho paciência para me aturar. Tenho dois olhos (míopes, mas enxergo com eles), dois braços, duas pernas, pai, mãe, irmã e uma bisavó ainda viva. Tenho vários instrumentos, quarto foda, pais com dois carros, escola particular, mega hair, agora até banda eu tenho. Mas eu não tenho eixo. Eu só tenho coisas paupáveis, ou não. Eu só queria um abraço meio assim, meio que de graça. Que eu não precisasse comprar ou barganhar. Ou que não viesse com aquele interrogatório ridículo sempre seguido da frase que amam repetir quando você já se sente pior do que se sentiu ontem: "Você tem tudo e reclama como se não tivesse nada!".
Oh, vamos lá. Eu sou a filhinha de papai e mamãe que de tão mimada já não vê graça nenhuma na vida. Aquela menina que vê drama em tudo. A egoísta; auto-indulgência a todo instante. Todos me vêem. Piercings, cabelo pintado, os tais dois braços, pernas, nariz e tudo o mais. Muitos até me acham bonita, um bando de inúteis me cobiçam... mas eles não me enxergam. Não conhecem minha voz de verdade, minha música favorita. Não conhecem meu livro favorito ou ao menos o motivo por eu não estar sentando com as mesmas pessoas de sempre.
É doentio. Você pega as palavras deles e realmente acredita nelas, as consome como se elas fossem o pão de cada dia. Como se elas te dessem sangue e um corpo perfeito. Você daria tudo por eles, e eles deram tudo para te ver no chão. Se eu soubesse que eu estava assim tão errada e que eu deveria ter me protegido daqueles em quem confiava, eu faria tudo novamente. Tudo. Exatamente como aconteceu. Eu sei que eu gosto de sofrer, então eu posso lhe confirmar, meu querido amigo... Eu me daria o mesmo tanto que me dei durante esses longos meses. Eu me esforçaria a escancarar a tal porta que eu nunca soube abrir. E eu deixaria eles entrarem. E bagunçarem. Bagunçarem tudo exatamente como eles fizeram. Eu me conheço, e sei que amo estar no chão catando todos os pedacinhos para colocá-los na estante uma vez mais.
Por todas as vezes que eles prometeram estar aqui, ao meu lado, para sempre. E por todas essas que eles fugiram, sumiram. Por todas essas que foram eles quem me derrubaram... Eu continuo os amando. Como sempre. E se eles sangrassem eu daria minhas veias para cobrir os buracos nas deles. E oh Senhor, Você não vê? Se alguém se levanta e fala a verdade sobre eles eu ainda sinto vontade de levantar ainda mais alto e espancá-los. Pois não pode ser verdade... O que tem se desenrolado na minha frente não pode ser ser assim tão pesado que eu não possa chutar pra longe. O quê tem acontecido?
E é doentio o fato de você estar sozinha e ainda assim ter quem morreria por você. Não sei por qual das Jéssicas eles morreriam, mas eles o fariam, eu sei. Mas eles acabam sendo apenas letras nesse monitor assim tão frio. Pessoas que moram aqui comigo mas que se assustariam se pudessem ver o que tem crescido debaixo dessa pele tão perfeita.
É doentio o quanto eles querem ser você. Simplesmente pelo fato de você ter tudo. Ter a pele perfeita, a tal bunda tão desejada. Só pelo fato de você ter tudo e reclamar como se não tivesse nada. É triste, é assustador. Eles te odeiam pelo que você tem sem sequer saber quem você é. Eles te odeiam de graça e é você quem paga o preço.
Então se você leu até aqui, não ria. Se você leu até aqui e não riu, não vá embora. Eu não sei quem você é mas eu realmente preciso de você por aqui, então não fique offline, eu tenho medo de ficar sozinha. Eu não sou assim tão fria, ainda durmo com o abajur de zebrinha, querido. Eu tenho medo do escuro, da morsa, do bicho papão, do meu primo, do tarado da esquina e de vocês. Eu tenho medo de mim por ainda querer confiar nos seres humanos. Eu tenho medo de quem fala, de quem late, de quem mia, respira, anda, caga. No momento eu só tenho medo. Medo e medo. Por isso estou sentada aqui desde quando a tristeza me nocauteou, escrevendo aleatoriamente... Até agora. Pois agora eu me sinto forte, tão forte que eu quebraria até eu mesma neste abraço tão estupidamente ingênuo que eu ainda dou. Tão forte que eu quebrei meu próprio chão apenas seguindo os caminhos que me foram dados. Sinto-me tão forte quanto absinto que até já me sinto tonta.
Eu sou ridícula. Hoje na rua um moço de bengala me disse "Hey moça bonita, me ajuda aqui... Você tem..." e estendeu sua mão enrugada. Eu estava sozinha, dura, estressada e com medo, como sempre. Não pensei duas vezes, não consegui raciocinar e ver nele alguém como eu e simplesmente disse que não, não tinha nada. Assim, com apenas aquele fio semitonado de voz, com o peito vazio e o estômago berrando. Dei pouco mais de três passos e senti uma vontade fudida de chorar. Meu Deus, como eu sou egoísta. Por caminhar olhando para meu próprio umbigo sangrando eu não vi nele essa pessoa como eu. Eu senti vontade de voltar e abraçá-lo e chorar com ele todas as nossas mágoas e humilhações. De ajoelhar ao lado dele, isso se ele ainda pode ajoelhar, e rogar a Deus que nos perdoasse por tudo que fizemos ou deixamos de fazer. Eu só queria fazer ele se sentir rei, pois eu tinha acabado de fazer ele se sentir um merda. E Deus, como eu me sinto péssima por isso até agora. Eu não aguentei e vim chorando até aqui. Atravessei a rua correndo e nem sequer olhei para trás. Mudei o caminho para não fugir não dele, mas da situação patética em que eu me encontro há anos. Eu até mesmo podia sentir ele correndo, se é que ele ainda pode correr, atrás de mim e doido para bater com sua bengala ou coisa que o valha na minha cabeça até quebrar meu crânio e me ver sangrando até morrer. Deprimente pra burro, eu sei, mas eu iria querer fazer o mesmo. E ele, que nunca me viu antes, me enxergou como eu sou. Com tantas pessoas ali, ele pediu ajuda a mim. A moça bonita. A filha da puta egoísta que achou que ele pedia esmola e não ajuda para simplesmente locomover-se. Eu realmente espero que ele tenha me xingado a plenos pulmões. Se ele não o fez, eu tenho feito isso mentalmente desde o início. Se hoje eu vou cair de joelhos ao lado da cama será por ele. Vou rezar, orar, rogar, implorar a caralhada a quatro para que ele nunca mais encontre pessoas vazias como eu em seu caminho. Ou para que o Senhor simplesmente leve ele daqui. Para que Você seja um pai e venha cuidar de Seu filho. Pois eu, do alto de todas as minhas qualidade, vestida da mais cobiçada perfeição, dei as costas a ele como se ele fosse um qualquer. Deus, me ensine, no duro. Ensine-me, por favor. Eu sei que ainda não aprendi a lição e acho que vou repetir de ano na vida novamente.
Parte é confiar em seus amigos e a outra é não desistir. Eu tenho esquecido quem eu sou e não consigo parar de chorar, saboreando desse meu jeito estranho cada lágrima que cai. Sobreviva do jeito que você sabe, querido amigo, pois não há ninguém em casa para você ligar pedindo socorro. Você fará tudo aquilo novamente. Você irá cair, rastejar, se vingar. Então vai, sobreviva do jeito que dá, Jéssica. Mas você não está mentindo, sim querida, eu sei como é. Nós todos sabemos o quanto você reclama como se não tivesse nada, quando na verdade você tem tudo.