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segunda-feira, 20 de abril de 2009


Carpe diem... mais uma daquelas expressões que eu nunca descobri seu real significado.
Se tudo é relativo e o tempo faz parte de tudo, logo, relativo ele também é. O amanhã é sempre o hoje e o hoje é fruto de um ontem plantado nas esperanças férteis de um hoje estéril. Logo, tanto quanto dois mais dois são quatro, o tempo me passa um tanto desbotado.
É como estar perdido em terras estrangeiras correndo em grandes e deliciosas voltas a sessenta km por hora. Você está sempre em movimento, mas nunca sai do lugar. É a Física de viver.
E, falando nisso, aproveito para queixar-me de que nunca consegui viver o exato momento, vivê-lo como se fosse meu último. Talvez isso assim seja devido minha pequena certeza de que saberei quando estiver encontrando esse tal de meu último minuto. Tanto saberei quanto desconhecerei de como vivê-lo. E assim eu permaneço, sempre ansiosa pelo próximo segundo, esperando o grande ápice de minha existência, minha ascensão. O momento em que o mundo saberá quem eu sou e voltará para me contar.
Quando todos reconhecerão meu nome e eu possa, enfim, morrer em paz. Espero pelo clímax de minha existência inerte assim como uma criança espera pelo Papai Noel com os olhinhos brilhando de esperança, mas sempre com aquela pontinha de insatisfação pesando no peito... todos nós sabemos a verdade por trás de tudo, apenas tratamos de esquecê-la.
Minha vida não vai pra frente e eu sei o motivo. Sim, sou eu o motorista embriagado de verdades, louco a dar voltas por Minas, por Brasília, por minha cidade natal. Não consigo viver o hoje pois estou muito bem, obrigada! enquanto permaneço ocupada esperando pelo meu doce amanhã que nunca chega. E quando chega, chega Hoje, só Hoje! Apenas Hoje!
Sempre me descontentei com aqueles que não aproveitavam suas vidas e morriam moles e indigentes, mas hoje (hoje, bendito hoje!) finalmente entendo porque voltamos ao pó do qual viemos. Finalmente consigo moldar minha mente ao fugaz ponto em que compreendo a arte de permanecer inerte, vão, sem sentido e sem indagações enquanto os segundos jorram livres de minhas veias. Do pó ao pó, de minuto em minuto.
Se cada minuto me leva cada vez mais perto para o fim do meu mundo (aquele mundo onde o presente não tem vez) então o hoje da minha deliciosa manhã de comerciais de margarina já seria o ontem para o hoje do momento? Se a cada segundo vivo uma nova chance de apertar a mão de um AVC, logo o segundo anterior já é meu ontem, certo?
Então não me peça para viver o hoje, não o seu hoje. Cada um teu seu casulo, seu próprio relógio biológico. Nossos ponteiros apenas estão coordenados para organizar a areia que escorre pouco a pouco, segundo a segundo, pela ampulheta. Cada tic seguido de um tac que seu relógio insiste em fazer durante sua tranqüila noite de sono é um tic seguido de um tac cada vez mais próximo do seu fim. Então pra que dormir agora? Vamos, ainda são três e vinte e sete da manhã, levante dessa cama! Você pode dormir quando estiver morto... carpe diem! Vamos viver esta vida, meu amiguinho.
Meu problema é com o hoje, meu passado está mais enterrado que meus antepassados. Ele não volta nem me incomoda, ele não me machuca. A lâmina está no futuro, amigo. No futuro que nunca chega, no futuro que não se realiza. Nos planos que sua mente arquiteta, nos sonhos que te consomem ainda mais segundos... no futuro. No amanhã que nunca existiu, no hoje travestido de realizações sedutoras que nunca passarão de fantasias. O amanhã não existe, desista.
E assim nos deliciamos nessa doce valsa, seguindo sempre o compasso marcado. Um, dois, três, hoje, hoje, hoje. Dois pra cá, dois pra lá. Hoje pra cá, hoje pra lá. Você perdeu dois compassos, Anita! carpe diem, minha querida! Segundos não voltam, só o seu hoje.

Então lhe peço como uma mãe implora para seu filho ir à escola... não deixe para fazer amanhã o que você pode fazer hoje, neste hoje! No hoje deste exato segundo. O amanhã nunca chega, você pode acabar por nunca fazer o que sua mãe pediu.

Ps.: Tens minhas desculpas sinceras por ter lhe roubado um bocado de da areia de sua ampulheta em vão.