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quarta-feira, 15 de abril de 2009


Eu nunca soube amar, o que sempre me levou a pensar que talvez eu tenha mesmo nascido de trás para frente, assim ao contrário. Eu nunca soube, mas sempre tentei amar e com a vontade pura e forte feito a de uma criança a tentar andar de bicicleta sem as rodinhas. Eu sempre segui em frente, cambaleante ou não, mas nunca sem o apoio das rodinhas; nunca sem tirar o pé no chão.
Eu nunca soube amar, nem papai nem mamãe. Era esse amor sujo e imposto, tão próximo do ódio quanto qualquer outro... mas não era o amor certo, não mesmo. E eu tentava, te juro! Mas nunca era o suficiente e sempre sobrava espaço para mais um, mas nunca para mim. Não que eu não tenha coração! Tenho um sim, desses bem grandões... tão vazio quanto o auditório do teatro municipal da minha antiga cidade. E só para constar não adianta bater na porta, levo a viso a sério: fechado para manutenção.
Eu nunca soube amar; sempre amei quem devia odiar e um ódio genuíno borbulhava em minhas entranhas por quem eu deveria amar. É assim e sempre foi, só não queria que assim continuasse. Sei bem que meu coração a mim pertence, mas não consigo controlar a criança teimosa. Ritalina!, alguém grita. Pode deixar, minha ritalina vem em doses de tequila.
E foi hoje que eu vi isso. Hoje, num bar decadente em Ipanema; num quiosque em plena Vieira Souto. Eu não sei amar e eu quero tanto... amo quem não me ama, quem está feliz em ouvir que em mim também não respira nenhum sentimento de afeto mais profundo que a camaradagem. Mas é tão mais que isso!
Amor não é camarada nem de longe, nem na cama. Ainda mais um amor assim, marfim. Um amor que não proporciona alegria nos afagos, mas nunca perde a oportunidade de plantar alguma dor nos tapas. É aquele amor que não impulsiona sua batida cardíaca ao cruzar os olhos com o amor de sua vida, mas sim aquele que lhe envenena enquanto seu objeto de desejo troca salivas com filhas de chilenas adormecidas.
Eu nunca soube amar e hoje, pois bem, desisto de tentar. Não quero mais vestir essa camisa com “altruísta” escrito em negrito na frente, me esqueça pra torcida; não quero mais amar ninguém dessa gente. Não quero fingir me preocupar, não quero mais cuidar de nenhum porre. Não quero tomar mais do que dois goles.
Eu nunca soube amar, creio que meus pais também não. E nem os seus e nem você. Amor não é isso, amor não é o que se passa na TV. O amor deveria explodir em você por um preto, um amarelo, um judeu, um nazista, um paraplégico. Mas não, seu amor não chegaria tão longe. Ele alcança uma bonitinha qualquer e pára por aí. Mil perdões, minha querida, mas amor não é isso aí.
Eu nunca soube amar, isso mamãe não me ensinou. Em ti tanto tentei aprender e fico feliz que tenha sido em vão. É ao menos reconfortante saber que me sobram as migalhas do seu pão.
Eu nunca soube amar e já não vou mais tentar. Pode desistir de esperar.