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quarta-feira, 7 de maio de 2008

Marieta


Quantas pessoas cabem dentro de uma? Se o fardo está muito pesado, onde diabos ela iria largá-lo?
E é guardar e esperar e ver no que vai dar. E cozinhar a mente para chegar até onde eles querem com toda essa carência de Vitamina D em seu organismo, que não vai mudar em nada se continuar alimentando-se de luz azul.
E se Marieta pudesse, eu sei que ela faria. Enforcaria todos eles, de um a um, para não sobrar mais nenhum sequer. Depois correria como se isso pudesse salvar sua vida com as lágrimas secando ao vento, a pele ardendo de tão esticada e seus olhos de tão inchados praticamente sumiriam.
Marieta conta seus sonhos para quem não deveria ouvir. Conta sobre como amaria usufruir de seu direito de ir e vir, mas ninguém acredita. Marieta já está velha demais para alimentar-se de sonhos e nem é bicho pra se sustentar do quê guarda em seu tecido adiposo; talvez seja hora de ingerir alguns alimentos de verdade.
E ela chora e engasga e quase se vomita e pode sentir o cheiro da loucura chegando; e está bem perto, pertíssimo. Mas a menina não está maluca, só um pouco confusa. Caiu no clichê do papo de sanidade financiada e hoje gasta seus dias a escrever linhas mergulhadas na infâmia.
Ainda assim, Marieta é tão eu e nem um pouco você. Não sei onde essa vadia começa, tampouco onde termina. Incrustada entre minhas entranhas, grudada em minhas artérias acaba passeando por minha corrente sangüínea como se fosse veneno meu. E a seringa só acalma, pouco ajuda. Essa paz amiga que vai aos poucos diluindo o quê me mata tão lentamente...
A menina morde a língua e segura as idéias cavalas na mente, e é quando minha avenida abre alas para Marieta. Sempre tão calma, sempre tão alheia. Mas continuo escondida lá no fundo, com os ouvidos grudados na bateria, esperando para explodir logo d'uma vez e ver o quanto restaria de nós duas.
O triste desfile em slow motion, as alegorias caindo e os carros enguiçando. Vejo bonecos perderam a cabeça, os braços em chamas e o povo só acompanha. Passos cegos, Marieta a frente e eu presa em marcha ré fico pra trás. Depois de tantos anos fingindo já não sei como me apresentar, perdi o jeito e os quadris já não balançam mais.
Então entre o "eu" e o "você" fica um vácuo quase que impenetrável e pela primeira vez em muito, lágrimas finalmente tocam meu rosto. Nos encaramos como se fôssemos uma reflexo da outra, sem um fim ou um começo definitivo, demarcado em piloto. Nunca achei tão difícil encarar alguém olho a olho... Sem mentir (Sem Marieta para mentir por mim).
Um silêncio mortal machuca meus tímpanos e o público a corroer seus estômagos pelo suco gástrico causado pelo estresso de esperar por alguma ação, algum golpe. Mas não, eu nunca machucaria aquela que me protege. Minha melhor capa jamais vestida. Mas Marieta não era invencível e aos poucos suas fendas caem, enquanto eu assisto de camarote seu desfalecimento.
C
omo encarar o mundo sem teus olhos para me esconder? Quantas pessoas cabem dentro de uma, meu Deus? Marieta está caindo lentamente e eu não posso tocá-la, não quero voltar a encarar o mundo como antes. E trocamos papéis, agora sou a capa daquela menina hoje tão assustada.
Me recosto ao parapeito da janela, dois passos e estou lá embaixo. Dois passos e estou sem ela.
Mas essa vida que enceno é tua para aproveitar, Marieta. Vá e fuja, menina. Fuja antes que eles também lhe deixem zureta.



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WTF Moment -q: sim, abri os comentários... Mas só pq a Tati pediu. :*
E cadê meus parabéns? (: 17 anos de vida. -n

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