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terça-feira, 6 de maio de 2008

Abstinência

A conversa estava indo bem até eu derramar as idéias sobre o papel. Toda essa tecnologia vem comendo meu cérebro e cuspindo minha imaginação pro ralo. Meu eu-lírico anda ainda mais sarcástico, afinal de contas, são 17 anos de convivência e já temos intimidade o bastante para que ele me deixe na mão.
Tudo estava correndo bem. Os parágrafos, pontos e vírgulas excessivas passeavam livremente pela minha cabeça até eu encostar a grafite no papel e eles correrem como demônios inexperientes.
Eu já nem sei mais sobre o quê estou falando e ainda assim sinto essa urgência bizarra de desenhar contos bonitos o bastante para povoarem seus sonhos. Não, eu não quero visitá-lo durante a noite e chacoalhar-lhe as cobertas; sua cama já está muito bem povoada por vocês dois. Mas eu adoraria bagunçar sua mente moderna durante seu ócio de escritório.
Tenho tentado demais encontrar alguma vocação que não envolva sonhos de Los Angeles e jantares de Sextas com Pitt e Jolie. Mas meu eu-lírico voa longe e aterrisa em algo que não consigo encontrar nas listas das faculdades. Se penso em Medicina, eu logo correria para um Grey's Anatomy da vida. Se resolvo passear pelo Jornalismo e todo seu estrelismo, seria para viver uma Louis Lane na TV, e não para esconder-me por trás de manchetes e mentiras.
Quero aplausos. Se hoje nós somos frutos da glamurização da desgraça então sou o maior ícone dessa moçada... Deus sabe o quanto estou estragada.
Sou da geração cristal e eu bem que poderia escrever um livro e torná-lo best seller. Mas minha mente não é muito ágil e eu nunca conseguir seguir pensamentos lógicos. Meus capítulos iriam para o Espaço em dias, e com eles minhas personagens explodindo feito homens-bomba. Não gosto. No fim das contas eu criei apenas humanos falíveis, versões 2.0 ou até mesmo 5.1 de mim mesma. Ou seja, em semanas me decepcionariam ao menos na cama.
Não me contento com sonetos, quero longos textos. Pensei em ser cronista, mas isso seria muita pretensão minha já que não sei reclamar da vida e fazê-lo parecer algo divertido e otimista.
Então eu gasto minhas madrugadas a pensar, os dias a sonhar. E já são 17 anos de nada. O Vestibular já bate a porta, segurando o ENEM pela mão e eu nem sequer sei qual é a fórmula da Força. O ultimato já foi dado: Não serei porra alguma. 17 anos e nada saiu do lugar, a mente continua atrofiada e só os cornos propõe-se a mudar.
Então continuo a gastar as madrugadas acordadas. Não que eu não consiga dormir, é só que eu não sei como encarar a luz apagada. Meu eu-lírico anda sarcástico o bastante para enfiar-me em uma crise da meia-idade sem eu nem ter alcançado a maioridade.
É... Deus sabe o quanto estou estragada.