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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

the world as we know it


Muros, grades, seguranças e sensores de movimento não me são estranhos, assim como para qualquer outro carioca, principalmente os que um dia já voltaram para casa com alguma paranóia ou história cabeluda de brinde. Nem mais estranhamos esses objetos estranhos que, de certa forma e para nossos olhos treinados e cansados, são parte da arquitetura do Rio. Sem esses detalhes, nossa cidade nos parece ainda mais nua e nós, deixados à Deus dará.
Mas tenho que confessar, de vez em quando, presto um pouco de atenção às coisas à minha volta quando ando por aí; são as mesmas casas de sempre, lojas, botequins, qualquer coisa normalmente ignorada mas que possa me distrair, principalmente se eu estiver dentro de um ônibus ou entediada em um carro. No último final de semana, sonolenta dentro de um carro dessa vez, acabei por notar todas as casas e edifícios ao meu redor com... cercas elétricas. Já não bastassem os muros gigantescos ou as grades grossas guardando as portarias, agora vejo cercas elétricas – que me pareceram apenas simples arames farpados à uma primeira vista – com avisos com caveirinhas, ou seja, a versão torrada de todo aquele que tentar invadir. Seria tudo isso apenas outra tentativa frustrada de se manter seguro enquanto distante do mundo lá fora?
Veja bem, não estou criticando nenhum deles. Arrisca-se quem se garante e se protege quem tem juízo e eu bem que andaria com zilhões de guarda-costas ao meu redor se tivesse grana para isso. Vida a gente só tem uma, certo? Protegemos-na como podemos. Eu realmente não vejo problema algum em viver por trás de um muro de concreto com cercas elétricas no topo se esta falsa segurança for apenas física e não emocional, se ela for te ajudar a dormir mais tranquilo, me entende? Até porque não é nem um pouco agradável a idéia de alguém invadir o meu espaço e tomar minhas coisas, minhas lembranças. Fora que toda essa proteção dá ao nosso mundinho particular um certo ar de mistério, como se um reino encantado se escondesse por aqui, com leões sábios, elfos gatos, Voldemorts e crianças que nunca crescem.
Mas não é bem assim. Parece que se tornar adulto é se prender no alto de uma maldita torre, fora do alcance de todos, tranquilo na solidão que se esconde por trás dessa falsa segurança sobre a qual tanto falo. São limites que delimitamos para manter distante qualquer indivíduo empenhado demais em nos conhecer de verdade, em invadir o que não é da conta deles, através de certos gestos, fugas de relacionamentos mais íntimos, sabes? Aqueles filtros que usamos quando seguramos a língua antes de falar o que realmente pensamos e até mesmo bloqueando nossas redes sociais... será que tudo isso vale a pena? Realmente funciona?
É o medo do desconhecido, do mais forte vir e arrombar sua segurança apenas para marcar território e mudar tudo de vez só para meter o pé levando com ele seus bens mais preciosos, suas fraquezas tão bem escondidas, souvernirs de seu mundo particular. Ótimos seriam esses muros se o medo de perder algo tão particular não fosse muito mais poderoso do que o de perder seu telefone de última geração ou coisa que o valha; o problema é que ele não te impede só de viver a vida lá fora sem maiores preocupações com quem está te seguindo, mas te impede de viver no lugar de apenas existir, se deixar ser descoberto como você realmente o é e não como apresenta para o seu público cativo e visitantes. Aciona o alarme, mano.
Enfim, por muito tempo acreditei que era melhor viver assim e ainda hoje cuido dos muros que protegem meu mundinho de qualquer bisbilhoteiro sagaz. Mas, para minha imensa alegria, o sensor de movimento que sempre me custou tão caro parece ter bobeado ao detectar uma certa presença estranha no meu jardim. É eu tacando quilos de cimento e alguém com um diacho de uma britadeira mandando meus muros abaixo; óbvio que reclamei e reclamei, resisti e até tentei fugir, mas sou uma fumante asmática, logo correr não é meu maior talento. Então estou tentando deixar o invasor chegar um pouquinho mais longe, sabe-se Deus onde isso pode parar... mas resolvi tentar me socializar com as crianças que nunca crescem daqui e acreditar em fadas.

Mas é óbvio que continuo carregando meu spray de pimenta pronto para espirrar em ambos perigos, afinal de contas, tanto meu celular quanto meus segredos são preciosos demais pra sair por aí dando bobeira.