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terça-feira, 19 de outubro de 2010

no dope, no hope - clarisse

O tempo está passando tão devagar ou tão rápido, já nem sei mais, que ainda é uma terça feira e eu sinto como se estivesse, não sei, na quinta. Tudo começou naquela maldita quinta passada, eu não sei, parece que meu chão sumiu e levou junto com ele toda e qualquer noção que já tive da realidade e do tempo que esta leva para passar e nos arrancar certas coisas. Fui lá, para aquele lugar que acostumei a chamar de lar - mas que agora é só um lá, como todos os outros -; encontrei-o, neguei-o. E então veio o dia seguinte e esperei, não lembro o que fiz, não sei bem o que pensei. Só sei que de quinta para sexta eu não dormi por alguma razão e agora, eu não sei, acho que até lembro de alguma coisa. Alguma conversa importante, alguma coisa; mas era feriado e nos feriados nada importam.

Então chegou mesmo a sexta e enrolei o máximo que pude; procrastinei. Procrastinar é uma das palavras que mais gosto. Procrastinei. O tempo seguiu e esperei, esperei novamente. Fumei e fumei várias vezes mas não me acalmei, nada nunca me acalma, muito menos ultimamente. Outra conversa, mas dessa vez nem um pouco importante, na verdade não me importei nem um pouco mas precisava matar o tempo e sei que você vai estar sempre ali já que você serve é pra isso. Fumei um pouco mais e finalmente entrei. Entrei e então puxei o primeiro copo. E mais outro, pediram cigarros e me deram; flashes, sorrisos e eu já nem sei mais o quê. Bebi, bebi e me diverti; fugi e mijei. Acho até que me escondi.

E então horas inacabáveis, pessoas malditas, mas ali na frente estava tudo caminhando corretamente. Aqui embaixo, aqui ao meu redor, pessoas amadas, tudo caminhando corretamente nessa nossa estrada torta. Outros encontros, sorrisos, outros cigarros pedidos. E então a hora passou. Passou e esperei novamente; chocolates e nem gosto deles. Vinho, vinho caro e bom e de graça ali, ele ainda não tinha chegado. Flashes, no flashes, só uma confusão e agora de nada sei e amanhã de menos ainda me lembrarei. Ele, ele, confusão, flashes, confusão. Outro não, nego aquilo que desconheço; sempre. Esqueci a porra da bolsa, acho que esqueci quem sou.

Então chegou o outro dia, o sábado, eu acho. Pouca ressaca física apesar da mistura e da falta de comida de antes - por que depois tive larica, bateu o desespero de ter outra porra naquela bebida. Devia ter ouvido alguém, alguém deve ter me avisado. A ressaca era moral por que tenho escrúpulos adoráveis dos quais nunca largo. É. Mas então voltei para o lá - que costumava ser lar - e vi café e lembranças da infância e parques abandonados e talvez eu tenha me sentido em casa novamente, mas voltei lá e me escondi por que bem, tenho medo do desconhecido. Desculpas à fadas e estava tudo certo, lá - que não sentia mesmo como lar - estava eu fugindo e negando novamente.

E mais tarde mais bebida, eu era eu novamente, mas agora existiam outros eu também. Nenhum contato, acho que eu não precisava de você naquela hora, eu ainda tinha os meus cigarros e os meus...

Então o tempo passou, não durmo. Cansei, quero sumir de você por que você é um saco. Mas eles são tão adoráveis, talvez eu devesse dá-los uma chance, foi o que eu decidi. É que eu decidi que não ia mais fugir e ir dormir na vontade. O céu era cinza hoje.

Mas então você pediu pra ficar e eu fiquei, estou tão cansada de tudo que até consegui cochilar. Mas então veio esse dia de terça que mais me parece uma quinta e, meu Deus, ele poderia ser eu; eu não teria problemas em ser ele, eu até gostaria de ser ele. Mas eu não sei, não sei. Acho que se fossêmos um o apocalipse aconteceria. Mas como não acredito no fim do mundo, deixei estar.

Mas já está tão tarde de novo e eu não consigo dormir, apesar do sono. Você veio de novo e, cacete, você cansa. Você e, putaquepariu, todo esse seu circo - nunca vou conseguir chamar isso de meu. Mas aí eu cansei e deitei, achei que talvez pudesse dormir para chegar logo a quarta e depois eu finalmente viver a quinta. Estou ficando com medo da quinta, sabia?

Mas nada dava em porra alguma então eu levantei e saí ligando, acendendo tudo - tv, luz, computador, cigarro, a porra toda. Fui na cozinha buscar umas coisas, mastiguei e cuspi tudo menos o café. Então eu continuei sentindo que algo faltava por ali, peguei o livro e fui fumar.

Então eu estava ali na sala, fumando e lendo e pensando no que diabos eu estava fazendo, quando ele veio com seus olhos desesperados apenas para refletir os meus. Deixei-o vir, me ensinar um pouco o que viria a ser o afeto. Então pensei que não devo ser uma má pessoa, não lá dentro, ou ele não iria vir ao meu encontro toda madrugada que saio para a sala só para fumar e de vez em quando ler, noutras só reclamar, mentalmente e sozinha, de tudo, grande ou pequeno, que de alguma forma me incomoda tanto.

Ouço grunhidos vindos do outro quarto e sons de pés a mexer em chinelos, membros a procurar um caminho seguro no escuro e olho para o relógio - três e caralhadas da manhã -, estou cansada e bocejando e eu deveria conseguir dormir, mas como sempre estou sem sono. E então ela vem, meio perdida e mansa só por que está dopada de sono - and no dope, no hope - e já até posso ouvir sua voz irritante repetir para mim "Clarisse, vai dormir". Nem seis segundos depois e sua boca seca da madrugada de sono que aproveitara - e que eu perdira jogada na cama me perguntando por quê diabos não durmo quando estou tão cansada - mexia-se apenas para cuspir exatamente o que eu previra. Dei de ombros. Foda-se. Como se um maldito dum resmungo fosse me enfeitiçar e me derrubar desacordada em algum canto daquele apartamento.

E então trancou-se no banheiro e dei mais algumas outras tragadas. Pensei novamente naquilo que havia escrito mais cedo, sobre muros e trancas e aquela falsa segurança que erguemos para nos manter longe dos pivetes e dos amantes bisbilhoteiros. Voltei meus olhos para o livro em meu colo enquanto ouvia o pequeno ser - queria chamá-lo de indivíduo mas não sei, acho que não dá. Indivíduo algum poderia gostar de mim a ponto de lamber meus pés - seguia para a porta que dava para o pequeno cubículo que dividia o quarto do banheiro; coitado, esperando, calado, alguma forma de afeto vir dela.

Então ela saiu, voltou para o outro quarto e segui para a cozinha já que o cigarro havia acabado (e o maço estava prestes a tomar o mesmo caminho). Bebi, eu não sei, uns três goles d'água pensando no que iria escrever quando sentasse o rabo aqui de novo, de frente pro computador, onde estou agora. Estou sentada e escrevendo sobre coisa alguma e ainda sem saber o que quero dizer.

Então..