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terça-feira, 28 de setembro de 2010

neorago.

Eu não peço muito, eu juro. Eu só queria que essa febre baixasse, que minha imunidade se fortalecesse e eu pudesse sugar a sua dor. Ser menos distante, saber abraçar, alcançar. Poder te tirar desses tubos e te conectar à mim, absorver o que te mata e te ver de pé outra vez.
É que você nunca vacilou na minha frente, nunca tropeçou ou caiu. Todos esses heróis das outras crianças são pinto na frente de quem você é, do que você faz por mim. Mas ninguém é de ferro, ninguém é eterno e eu já devia saber disso. Sempre vejo tanta gente vir só para ir logo depois, mas eu não sei se poderia passar por essa sem você.
Por que era você comigo me fazendo respirar, comigo no elevador quando ele caiu e eu estava dopada demais para entender o que te fazia passar. Era você ali, sorrindo para mim mesmo quando eu tomava o caminho contrário e jogava por terra tudo o que a sociedade tenta me fazer acreditar que é o fácil. É você me apoiando nas burradas, nas saídas e nos porres de finais de semana, nos sonhos idiotas de entrar em Julliard ou poder ter uma vida decente na Coréia.
É você quem me derruba, só você. Seja com suas palavras rígidas, sua falta de tato ou quando cai numa cama de hospital; aberto e com água podre jorrando de você, o corredor vazio e minha mente girando. Você não deveria ser o Super Homem com alguma kryptonita. Você não pode ter fraquezas ou eu não tenho em quem segurar. Então, por favor, volta logo. Eu realmente não sei andar sem a tua força pra me manter de pé.
Por que todos eles tentam e por isso eu agradeço, mas eu não posso te perder. Não posso te ver calmo, dormindo quase sem respirar, com só uma máquina te mantendo aqui. E se a luz acabar? Ela deve ter uma bateria, eu sei. Mas baterias acabam e você não deveria depender de uma. Você é tão mais... Quero a sua fúria de sempre, você pode berrar o quanto quiser, me xingar o quanto quiser, só não me deixa sozinha.
Tudo me dói, pai, e os dezenove anos não deveriam ser assim. Tudo arde, 'tô sem pele e a carne queima feito pra caralho, 'tô dizendo. Cadê você pra me esconder os cigarros, me mandar ir tomar um remédio, beber água, deitar? Cadê você pra me fazer comer? Eu 'tô comendo tanto por ti, pai. Eu poderia engordar uns cem quilos se isso fosse te trazer pra perto de mim agora. Eu poderia comer um boi, o nosso cachorro, eu comeria um braço meu se isso fosse te fazer voltar a sentir o teu.
Só não me deixa aqui sozinha, por favor. Eu 'tô te pedindo.